Publicada em 03/02/2022 às 16h25
Há exatos 60 anos, os Estados Unidos impuseram um embargo econômico contra Cuba que permanece em vigor. Para marcar a data, nesta quinta-feira (3), o governo cubano exigiu "de forma enfática e enérgica" o fim da medida que isolou a ilha.
O embargo começou um ano após a ruptura unilateral de relações diplomáticas entre os dois países, e entrou em vigor com o decreto presidencial 3.447, assinado pelo ex-presidente americano John F. Kennedy (1917-1963), oficializando o fim de todo o comércio com os cubanos e o rompimento das linhas aéreas.
"Nossa denúncia permanecerá firme e invariável até que esta política desumana e ilegal cesse em sua totalidade", diz o comunicado oficial do governo do presidente Miguel Díaz-Canel, publicado no aniversário da imposição do embargo. De acordo com a nota oficial cubana, a medida "nunca teve o menor indício de legitimidade ou justificativa moral".
Com o tempo, "o objetivo oficial do embargo evoluiu", observa John Kavulich, presidente do Conselho Econômico cubano-americano. "O objetivo não oficial é conseguir uma mudança de regime”, diz. Nos últimos anos, o governo dos EUA tem justificado a medida em torno de duas questões: os direitos humanos e o apoio de Havana ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.
“Não só a justificativa evoluiu, mas também o tipo de ações” implementadas, sublinha Alina Lopez Hernandez, pesquisadora e redatora editorial da mídia online La Joven Cuba.
Desde que Fidel Castro chegou ao poder, em 1959, os 13 presidentes que passaram pela Casa Branca mantiveram "a aposta de causar o colapso econômico e a insustentabilidade do projeto revolucionário", denunciou Díaz-Canel.
O texto destaca que no contexto da luta contra a Covid-19, o embargo atingiu "limites insuspeitos de crueldade, ao impedir doações solidárias, tentando impedir o desenvolvimento de vacinas cubanas".
A ilha caribenha fabrica as vacinas contra o coronavírus Abdala, Soberana 02 e Soberana Plus, com as quais foram vacinadas 9,8 milhões de pessoas, de uma população de 11,2 milhões de habitantes.
O governo cubano reitera que, em seis décadas, o bloqueio causou "um custo humano incalculável" e danos de US$ 144,4 bilhões. Trata-se de "uma violação massiva, flagrante e sistemática dos direitos humanos", afirma o comunicado oficial.
O embargo, reforçado por outras leis como a Torricelli, em 1992, e a Helms-Burton, em 1996, "evoluiu para se tornar o ato mais complexo, prolongado e desumano de guerra econômica cometido contra qualquer nação", escreve o regime cubano.
Trump reforçou bloqueio
O país, que sofre com uma grave escassez de alimentos e remédios, rejeita as críticas segundo as quais o governo usa o embargo para justificar a prolongada crise econômica que atravessa. O Produto Interno Bruto (PIB) de Cuba caiu 11% em 2020, a pior queda desde 1993.
"As medidas de coação econômica atingem uma agressividade qualitativamente superior. São aplicadas medidas de guerra não convencionais", acrescenta o comunicado, referindo-se ao reforço do embargo promovido pelo governo de Donald Trump. O republicano recolocou a ilha na lista de países patrocinadores do terrorismo, de onde havia saído, em 2015, e aplicou 243 medidas adicionais ao embargo.
"Economicamente, o bloqueio americano é uma das causas da situação em Cuba, mas não a única", afirma o economista Omar Everleny Pérez. Devido à falta de produção local suficiente, especialmente agrícola, a ilha importa 80% do que consome. “Quanto à abertura ao setor privado, chegou tarde e ainda enfrenta entraves administrativos”, acrescenta.
Para Alina Lopez, "as políticas internas pesam mais sobre a situação de Cuba do que o bloqueio, porque o reforço do embargo data dos anos 1990, mas as más políticas são históricas, datam dos anos 1960".