Publicada em 12/02/2022 às 10h57
Apesar de ser o responsável pelo fornecimento de mais da metade das doses contra a Covid-19 aplicadas em crianças de 5 a 11 anos no país, o Butantan está há quase vinte dias sem resposta do governo para a compra de novos lotes da CoronaVac.
O instituto ofereceu no fim de janeiro 30 milhões de doses do imunizante, 10 milhões com entrega imediata e outros 20 milhões no período de até 25 dias. Desde então aguarda uma resolução para o impasse. Segundo a assessoria de imprensa do Butantan, há tratativas, mas não existe ainda um contrato.
De acordo com o painel de vacinação do Ministério da Saúde, das 3.668.751 doses aplicadas para esse público até a sexta-feira (11), 2,04 milhões são da CoronaVac (55,6%). A Pfizer é o laboratório responsável por quase todas as outras vacinas, mas há registros de uso da Oxford/AstraZeneca, não autorizada para essa faixa etária.
Em janeiro, quando ainda estava em discussão pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a aprovação da imunização infantil com o CoronaVac, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que as doses que já estavam com os Estados poderiam ser usadas. Ele, no entanto, não anunciou novas compras.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, já reclamou publicamente que a pasta parecer ter má vontade com a CoronaVac. Em 2020, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que não compraria a vacina, desenvolvida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Queiroga afirmou em setembro de 2021 que o governo não compraria mais vacinas sem registro definitivo na Anvisa, como é o caso da CoronaVac. O Butantan só fez o pedido emergencial.
Bolsonaro também questionou a necessidade de vacinação infantil ao espalhar informações falsas sobre possíveis problemas causados pelos imunizantes e defendeu, endossado pelo ministro da Saúde, a obrigatoridade de receita médica para a liberação da vacina.
Pfizer lidera entre jovens de 17
Em janeiro, o instituto paulista pediu autorização para a CoronaVac ser injetada em crianças e jovens de 3 a 17 anos. A Anvisa, no entanto, aceitou apenas a aplicação a partir dos 6 anos de idade.
Se a divisão no painel de vacinação do país for feita com o recorte de 5 a 17 anos, a Pfizer toma a ponta com larga vantagem, com 92% das 28,7 milhões utilizadas. Isso porque foi aprovada para jovens acima de 12 anos muito antes, em julho de 2021.
A partir de janeiro, antes da CoronaVac, a Pfizer começou a ser dada às crianças brasileiras.
São Paulo vacina mais crianças
Talvez por ter mais doses da CoronaVac em seus estoques, o Estado de São Paulo vacina mais rápido e atende proporcionalmente mais crianças de 5 a 11 anos que todo o país.
Das 357 milhões de doses aplicadas para todos os brasileiros e registradas no Localizasus até sexta-feira, 91 milhões, ou 25%, foram de São Paulo. A cota nacional quando o público se restringe a meninos e meninas de até 11 anos sobe para 36%.
O Amapá, na lanterna da campanha infantil, aplicou 70% de suas 4.809 injeções com a solução da Pfizer. O restante é CoronaVac. O Estado da região Norte do Brasil aplicou 0,13% de todas as doses para crianças, metade dos 0,26% que atingiu entre todos os públicos.
Curioso na conta é que, conforme dados de um estudo do IBGE, o Amapá tem mais crianças percentualmente que São Paulo, o que deveria ter aumentado seu peso na vacinação nacional no momento em que a imunização avançou para essa faixa etária.
No Brasil inteiro, também segundo as projeções do IBGE, 9,5% dos brasileiros têm entre 5 e 11 anos.
A Secretaria de Saúde de São Paulo explica a velocidade na vacinação infantil dizendo que o Estado foi o primeiro a iniciar a imunização de crianças no país, no dia 14 de janeiro. Além disso, a pasta tem promovido mutirões de aplicações, como o Dia C, que ocorreu no sábado (5) para ampliar a cobertura vacinal.