Publicada em 19/02/2022 às 09h33
Porto Velho, RO – O senador de Rondônia Marcos Rogério, do PL, é o tipo de político que gosta de se refestelar sobre “cobra morta”, assunto passado. E não é se fazendo de bobo: é método, como costuma sacramenta a respeito dos seus opositores ideológicos.
No decorrer da semana, o sabujo do Planalto regressou à Tribuna do Senado Federal, em Brasília, desta feita para a fim de se debruçar nas sequelas educacionais carregadas ao Planeta exclusivamente por conta de um período pandêmico.
O novo filiado do partido do condenado pelo Mensalão Valdemar Costa Neto, que também abraça o atual presidente da República Jair Bolsonaro, credencia responsabilidade aos governadores do Brasil pela ausência de aulas presenciais nos últimos dois anos.
Dois anos, que, diga-se de passagem, somaram mais de 643 mil mortos exclusivamente por causa da COVID-19 (SARS-CoV-2).
De fato, o enfrentamento da doença que atingiu todos os continentes acarreteria, obviamente, reflexos negativos no futuro: isto, tanto na seara econômica quanto social.
Um deles é voltado ao dado apresentado por Rogério, que é verdadeiro.
“Em 2021, o número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabem ler, nem escrever, chegou a 2,4 milhões, um crescimento de 66% na comparação com 2019”, indicou na postagem junto com o vídeo.
E arrematou: “Um dos gravíssimos prejuízos que amargamos na educação com a ausência de aulas presenciais no período de pandemia!”, já transferindo a responsabilidade, de maneira velada, aos gestores estaduais.
Ele continua:
“Não podemos nos esquecer, que em 2020 e 2021, muitos setores da sociedade insistiram em medidas radicais, travando uma queda de braço com o Governo Federal, que não concordava com o fechamento das escolas”, pontuou.
E encerrou: “E agora o que vemos é um dos reflexo da politização do tema”.
Marcos Rogério, safo, sabe que é possível colher dividentos em cima do tema, tão complexo, tão sensível. Muita gente foi realmente contra o isolamento restritivo, incluindo nas passagens temporais em que a pandemia atingiu seu pico de infecção e mortes.
Porém, decisões difíceis tiveram de ser tomadas, levadas a cabo. Nem sempre aquilo que a maioria quer é bom para o coletivo. É por isso que a sociedade elege prefeitos, governadores, deputados, senadores e presidentes. Para representá-los, especialmente em situações de crise.
Não se decide fora do espectro de alta gravidade cercear, mesmo que parcialmente, a liberdade das pessoas; o mesmo vale para aulas presenciais; aplicação obrigatória de vacinas; exigência de passaporte sanitário e daí por diante.
O discurso fácil de Marcos Rogério é abjeto, porque pretende lucrar politicamente em cima de uma catástrofe. Defender o governo federal é um direito seu, e tem de fazê-lo se achar que é válido. Ele é livre para isso, e tem de ser porque uma democracia pressupõe tal característica.
Agora, coisa completamente diferente é ignorar o panorama, fingir que nada ocorreu, dar de ombros ao caos largado pela enfermidade em todos os rincões da Terra.
Ao bancar o aloprado, de novo, tentando construir uma narrativa em que todo mundo é mau e o morador do Alvorada é bom, bem, presta um disserviço intangível.
A existência não é binária, dicotômica nem maniqueísta como quer fazer crer. E em vez de ajudar, fomenta a discórdia.
“Tem método”, diria Marcos Rogério sobre ele mesmo.