Publicada em 08/02/2022 às 11h23
Em conversa com jornalistas nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde Marcelo Queiroga falou sobre a vacinação infantil e disse que o governo federal não atrasou a compra de vacinas. Em um dos momentos, Queiroga disse que vacinar crianças é diferente de vacinar adultos e que não dá para forçar a vacinação nesse público (veja abaixo o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente).
“Eu mesmo tive a oportunidade de vacinar crianças em Brasília. Às vezes, você tem que convencer a criança a se vacinar. Ninguém vai pegar uma criança à força, ir lá aplicar uma vacina com a criança berrando, não dá”.
Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, discorda do ministro e explica que crianças não têm autonomia para decidir sobre sua saúde, se deve ir ou não para a escola, se precisam se alimentar.
"Faz parte da responsabilidade dos pais propiciar as ferramentas de promoção de saúde e a vacina é uma delas. As crianças devem ser vacinadas a despeito delas gostarem ou não. O momento da vacinação deve ser o mais acolhedor possível, claro. Mas não se pode negar o benefício por causa de alguma dificuldade de aceitação", alerta Kfouri.
"Pais e profissionais da saúde devem trabalhar para que esse momento seja o menos traumático possível. No entanto, jamais devem deixar de vacinar a criança porque ela não quis", completa o infectologista.
Indígena Davi, de 8 anos, é a primeira criança a receber a vacina contra a Covid-19, no Hospital das Clínicas, em SP — Foto: Reprodução
Atraso das vacinas
Queiroga também criticou jornalistas que dizem que o governo federal atrasou a chegada das vacinas. “É mais importante avançar na terceira dose do que ficar nesse 'nhem nhem nhem' de vocês de que a gente está atrasando doses de vacinas. O povo brasileiro sabe que não estamos atrasando vacinas”.
E completou: “vocês estão dizendo que eu atraso vacina? Eu já distribuí 430 milhões de vezes mais vacinas do que você que está falando que eu atraso. Você não distribuiu nenhuma dose. Todas as doses de vacina foram distribuídas pelo governo do presidente Jair Messias”.
O que diz o ECA
O Estatuto da Criança e do Adolescente é categórico: a vacinação das crianças é obrigatória nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. O advogado Ariel de Castro Alves, integrante do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, explicou ao Jornal Nacional que cabe aos pais, mães ou responsáveis cumprir a lei.
“A partir do momento que a agência sanitária e o próprio Ministério da Saúde recomendam determinada vacinação, ela passa a ser obrigatória. A única exceção, claro, é se existirem pareceres, laudos, receitas de que determinada vacina possa gerar risco para alguma criança”, afirma.
Desde 1977, o Programa de Nacional de Imunizações prevê uma lista de vacinas obrigatórias, que vem sendo atualizada ao longo dos anos. A vacina contra a Covid ainda não entrou nessa relação, mas pela Lei da Pandemia, de 2020, estados e municípios podem torná-la obrigatória.