Publicada em 28/02/2022 às 10h18
RIO - Um surto de Covid-19 entre os indígenas korubo, no Vale do Javari, na Amazônia, acendeu o alerta para o risco iminente de contaminação de outros grupos de recente contato existentes na região, onde há maior concentração de povos isolados do mundo. Foi apurado que mais de 70% dessa etnia (75 de 103 indivíduos) que vive entre os rios Coari e Ituí, no município de Atalaia do Norte, testaram positivo para a doença nas duas últimas semanas. A contaminação dos korubo põe em xeque o plano do governo federal de combate à Covid nas aldeias e comprova que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) falharam diante da determinação dada há cerca de dois anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de instalar barreiras sanitárias em locais estratégicos.
Esses são os primeiros casos de coronavírus registrados desde o início da pandemia entre os korubo, cuja cobertura vacinal não está completa. A denúncia sobre as contaminações consta em ofício enviado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) à Funai e à Sesai, vinculadas ao Ministério da Justiça e da Saúde, respectivamente, após relatos dos próprios korubos que mantêm comunicação com a entidade. A Univaja , no entanto, foi ignorada pelos órgãos e acusa o governo de falta de transparência. A Sesai admite o surto e diz que os casos estão sendo monitorados.
O GLOBO teve acesso também a um áudio em que um tradutor korubo relata a situação nas aldeias próximas do Coari, onde vive o grupo de mais recente contato. Ele confirma os casos de Covid e diz que os indígenas contaminados apresentaram, até o momento, sintomas “moderados” da doença. Na última sexta-feira, o drama dos korubo foi discutido na Sala de Situação criada pelo STF para atender os povos isolados na pandemia. Representantes do governo, Funai e Sesai, estavam presentes e foram questionados sobre a crise sanitária por entidades indígenas.
A presença de invasores na região, além dos próprios agentes da Sesai e demais indígenas que circulam por Atalaia do Norte e retornam às aldeias são apontados como vetores e possíveis agentes transmissores da doença que afeta mais da metade dos korubos.
No total, de acordo com o levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), 1.283 mortes ocorreram em função da Covid nas aldeias e em contexto urbano desde o início da pandemia entre 162 povos afetados em cerca de 70 mil casos.
Entenda o risco que os povos isolados correm com a contaminação dos korubo e conheça mais sobre essa etnia de recente contato na reportagem completa.