Publicada em 21/03/2022 às 11h06
Em meio às muitas incógnitas dos efeitos da pandemia de coronavírus, o jornal Le Parisien desta segunda-feira (21) traz uma reportagem especial sobre os estudos realizados no Laboratório de neurociência e cognição do Hospital de Lille, no norte da França, em relação aos efeitos da Covid-19 sobre a memória e a fertilidade.
O diário francês entrevista o pesquisador Vincent Prévot e sua equipe sobre os efeitos da chamada Covid longa e suas consequências hormonais e no envelhecimento prematuro.
Dentro de três anos, a equipe de cientistas deste que é um dos mais prestigiosos centros de estudo do cérebro, um dos primeiros no mundo a ter demonstrado o impacto neurológico da Covid, terá que responder a uma pergunta perturbadora: quais são as consequências do vírus na fertilidade e no envelhecimento cerebral a longo prazo? Estaríamos todos condenados à esterilidade e à demência prematura?
Vincent Prévot responde que nem todos e que os vacinados estariam protegidos, "mas sabemos que há consequências. O cenário mais catastrófico seria uma enorme onda de infertilidade na Terra. Espero que não seja assim”, diz ele, em um tom de apreensão controlada.
Para refinar o diagnóstico, os pesquisadores vão acompanhar 50 ex-pacientes que foram internados por causa da Covid, que serão submetidos a ressonâncias magnéticas de seus cérebros de três em três meses, análises de sangue, testes cognitivos, em uma investigação que avança lentamente.
Fertilidade
Desde a primeira onda da pandemia, os pesquisadores tiveram acesso a quatro cérebros de pacientes que morreram na UTI. O estudo revelou que três deles tiveram infecção cerebral. Mas o que isso tem a ver com infertilidade? Prévot explica que, “no estado embrionário, os neurônios que controlam a função de reprodução nascem no nariz antes de migrar para o cérebro. Há sempre uma ligação entre os dois, daí essa pergunta, um vírus que entra pelas narinas pode prejudicar a fertilidade?”.
O estudo com cerca de 60 pacientes de terapia intensiva mostrou que a maioria sofria de disfunção testicular causada por um distúrbio no cérebro, apoiando a hipótese de Prévot e sua equipe. Com isso, será que bebês infectados podem ter mais dificuldade em ter filhos quando chegarem à idade adulta? “Possivelmente”, pensa o cientista. “Ainda estamos nadando no desconhecido, mas, na minha opinião, esse é um argumento que reforça necessidade de vacinar crianças pequenas. A perda de seus neurônios também pode levar a um declínio nas habilidades intelectuais”.
Caio, integrante brasileiro da equipe de pesquisadores, conta que o estudo observou que o vírus causou gripe em roedores que, ao contrário dos camundongos abatidos pela Covid, se recuperaram em um mês. “As sequelas são reversíveis e isso é uma boa notícia, analisa Vincent Prévot. Mas isso também significa que, mesmo com sintomas leves, a Covid-19 pode enfraquecer o cérebro e resultar em 20 a 30 anos de doenças degenerativas.”