Publicada em 23/04/2022 às 10h38
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou neste sábado (23) a alunos de uma universidade alemã que o presidente Jair Bolsonaro é resultado de um “ovo da serpente” chocado durante o impeachment sofrido por ela em 2016.
A declaração foi dada durante a Brazil Summit Europe, organizada por alunos e ex-alunos brasileiros da Hertie School, escola de governança e administração pública alemã. O evento também prevê palestras dos ministros Cármen Lúcia e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal; da ex-ministra do Meio Ambiente Isabella Teixeira; o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta; o médico Drauzio Varella; e o CEO da Volkswagen Caminhões, Roberto Cortes.
“Sabemos que [Jair] Bolsonaro é resultado do ovo da serpente chocado no golpe de 16, no discurso de ódio que o sustentou e na interdição do presidente Lula”, afirmou.
A exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que até a manhã deste sábado não tinha se manifestado sobre o decreto de Bolsonaro de perdão de pena ao deputado aliado Daniel Silveira (PTB-RJ), Dilma também não tocou no assunto.
Para a ex-presidente, o governo Bolsonaro tem atuado para diminuir direitos do povo brasileiro que “vêm sendo roubados” desde o que ela classifica como um “impeachment fraudulento”.
O impeachment de Dilma Rousseff foi aprovado pelo Senado em agosto de 2016 (vídeo abaixo), depois de passar também pela Câmara. Os parlamentares entenderam que a então presidente cometeu crime de responsabilidade ao editar três decretos de créditos suplementares sem autorização do Legislativo e ao praticar as chamadas “pedaladas fiscais”, que consistiram no atraso de pagamentos ao Banco do Brasil por subsídios agrícolas referentes ao Plano Safra.
Na avaliação de Dilma, a consequência do afastamento dela da Presidência em 2016 foi a aprovação de “toda uma lista de medidas importantes para a agenda neoliberal”.
A ex-presidente citou como exemplos a instituição do teto de gastos (que restringe o crescimento do gasto público à taxa de inflação do ano anterior) e as reformas trabalhista e da Previdência — ela não defendeu uma revisão ou revogação das medidas.
Na última semana, o PT, PCdoB e PV deram entrada no registro de uma federação partidária entre as siglas. Em um documento que trata do que será defendido pela federação, intitulada Brasil da Esperança, os partidos fazem menção à “revogação da contrarreforma trabalhista feita no governo Temer e a implementação de uma nova reforma trabalhista feita a partir da negociação tripartite”. O documento diz ainda que será preciso “repensar o modelo previdenciário do país”.
“Não é que a gente faça a revogação porque ninguém quer de volta o passado. O que a gente quer é reconstruir uma relação de trabalho moderna, que leve em conta o mundo do trabalho de hoje”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência, em entrevista na última terça a uma emissora de rádio no Tocantins.
Bolsonaro, segundo ela, deu continuidade aos “retrocessos” e concluiu uma agenda de austeridade fiscal com a aprovação da autonomia do Banco Central.
“É este o preço cobrado pelos neoliberais para manter algum suporte ao neofascismo”, afirmou durante a conferência neste sábado.
Dilma Rousseff criticou o que classifica como política de “desnacionalização” de estatais no governo Bolsonaro. Ela citou uma “acelerada” venda dos blocos do pré-sal, o “esquartejamento” da Petrobras e a capitalização da Eletrobras. “Se as forças progressistas não conseguirem barrar, haverá um aumento brutal das tarifas de energia”, declarou.
Para ela, a eleição presidencial deste ano será um combate para “enfrentar o pior governo da história”.
Segundo ela, o PT está ampliando alianças e buscando "derrotar o fascismo, congregando todos os democratas”.
“Essas forças terão de enfrentar, de lutar e de resistir”, disse.