Publicada em 14/04/2022 às 13h53
Mais de um ano e meio após a enorme explosão que devastou o porto de Beirute, o Líbano ordenou, nesta quinta-feira (14), a demolição dos silos de grãos que correm o risco de desabar. A medida, no entanto, não tem o apoio de parentes das vítimas da tragédia, que querem transformar essa região do porto num lugar de memória.
O governo "instruiu o Conselho para o Desenvolvimento e Reconstrução para supervisionar a destruição dos silos de grãos", declarou o ministro da Informação libanês, Ziad Makary, após uma reunião de gabinete, sem especificar uma data.
A decisão de destruir os silos, tomada em março, foi baseada em um laudo técnico apresentado por uma consultoria de engenharia local. Segundo Makary, o relatório indica que as estruturas correm o risco de "desmoronar em poucos meses" e, portanto, podem constituir "um perigo" aos libaneses.
Em abril de 2021, após um trabalho que consistiu em escanear os silos a laser, a empresa suíça Amann Engineering já havia recomendado a destruição dessas estruturas, argumentando que elas corriam o risco de entrar em colapso. "A inclinação está ocorrendo a um ritmo de 2 milímetros por dia, o que é muito, estruturalmente falando", afirmaram os técnicos da empresa em um relatório.
Mais de 200 mortos
A explosão aconteceu em 4 de agosto de 2020, no local onde várias centenas de toneladas de nitrato de amônio eram armazenadas “sem medidas de precaução” pelas próprias autoridades. Mais de 200 pessoas morreram na explosão, que devastou bairros inteiros da capital libanesa.
Os silos de grãos, com 48 metros de altura e capacidade de armazenamento de mais de 100.000 toneladas de cereais, foram fortemente atingidos pela explosão e desabaram parcialmente.
Um grupo de parentes das vítimas considerou a decisão de destruir os restos dos reservatórios como "injusta". Eles convocaram uma manifestação na tarde desta quinta-feira perto do porto. Em março, esse coletivo havia exigido a preservação dos silos que, segundo o grupo, testemunham o "massacre".
Para dar uma resposta aos parentes das vítimas, o governo pediu aos Ministérios da Cultura e do Interior para "erigirem um monumento em memória dos mártires" da explosão.
Crise política
A catástrofe também deixou mais de seis mil feridos e uma população traumatizada até hoje. Além das consequências da tragédia, o Líbano enfrenta uma crise política e econômica pré-existentes, mas intensificada desde então.
A reconstrução das zonas atingidas avança lentamente, organizada principalmente por associações e com a ajuda da diáspora. No entanto, disputas internas emperraram qualquer tipo de intervenção, já que a comunidade internacional pede um mínimo de estabilidade política em troca de uma possível ajuda.
A investigação sobre a explosão está suspensa há meses. As famílias das vítimas e ONGs acusam as autoridades de dificultarem o avanço da apuração a fim de evitar acusações por negligência criminosa.