Publicada em 27/04/2022 às 14h51
O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, interveio nesta quarta-feira (27), pela primeira vez, na questão da suposta espionagem de separatistas catalães, prometendo "assumir a responsabilidade" pela mesma.
"Vamos assumir a responsabilidade", disse o socialista Sánchez no Congresso, pronunciando-se pela primeira vez sobre o caso, desde a publicação do relatório de uma organização canadense que identificou mais de 60 pessoas do círculo separatista catalão com seus celulares infectados, entre 2017 e 2020, com o software de espionagem israelense Pegasus.
"Estamos falando sobre um tema sério que exige respostas sérias", admitiu, relembrando que seu governo anunciou, no domingo (24), a abertura de investigações internas e um controle parlamentar dos serviços de Inteligência.
Sánchez, cujo governo não reconheceu a espionagem até agora, insistiu em que o Centro Nacional de Inteligência (CNI) agiu "aderindo escrupulosamente à lei" e que não foram cometidas irregularidades.
- Sánchez adia viagem -
Considerando que seu governo depende, em particular, do apoio parlamentar do partido separatista ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), Sánchez pediu que restabeleça a "confiança" e não lhe neguem seus votos.
O governo teme que a ERC se posicione, nesta quinta-feira (28), contra um plano de ajuda direta de 6 bilhões de euros para famílias e empresas. Em vigor desde 1º de abril, este projeto tem o objetivo de compensar o impacto econômico da guerra na Ucrânia e precisa do sinal verde do Congresso para não se tornar letra-morta.
Neste contexto de elevada tensão política, Sánchez adiou uma viagem que tinha previsto fazer nestas quinta e sexta-feiras para Moldávia e Polónia, segundo uma fonte do Executivo.
Citando fontes próximas ao CNI, o jornal El País afirmou que os serviços de Inteligência espionaram os separatistas catalães, mas com permissão judicial e de forma individualizada, não "em massa".
Em outro gesto, visando a apaziguar os separatistas, o presidente socialista do Congresso dos Deputados autorizou na terça-feira uma modificação da eleição dos futuros membros da comissão parlamentar de "segredos oficiais". Nela, vai-se analisar a ação do CNI neste caso e será permitida a inclusão da ERC e dos independentistas bascos do EH Bildu.
Apesar de todos os gestos do governo, a ERC exigiu, nesta quarta-feita, a renúncia da ministra da Defesa, Margarita Robles, cuja pasta é responsável pelo CNI.
Robles está "politicamente" incapacitada de continuar no cargo, diante do "que é o pior escândalo de espionagem das últimas décadas", declarou o presidente catalão, Pere Aragonés, da ERC, no Parlamento regional.