Publicada em 02/04/2022 às 10h27
As autoridades do Sri Lanka decretaram neste sábado (2) um toque de recolher de 36 horas e mobilizaram tropas armadas com amplos poderes para deter suspeitos, com o objetivo de conter as manifestações provocadas pela crise econômica no país.
O toque de recolher entrará em vigor no sábado à noite e prosseguirá até a manhã de segunda-feira, ou seja, um período para impedir as manifestações programadas para domingo.
O presidente Gotabaya Rajapaksa instaurou o estado de emergência na sexta-feira à noite, um dia após a tentativa de invasão de sua residência por parte de centenas de manifestantes, que protestavam contra a escassez de alimentos, combustíveis e medicamentos.
O chefe de Estado alegou a necessidade de "proteção da ordem pública e manutenção dos serviços essenciais para a vida da comunidade".
Soldados com armas automáticas foram mobilizados para controlar as multidões nos postos de gasolina e outros pontos da cidade.
Em períodos normais, o exército não pode atuar por conta própria e deve servir como apoio À polícia, mas com o estado de emergência pode operar de forma autônoma, como por exemplo para prender civis.
O país insular de 22 milhões de habitantes, localizado ao sul da costa da Índia, sofre uma grave escassez de produtos essenciais e uma elevada inflação pela falta de divisas internacionais, além de uma forte dívida, na crise econômica mais grave desde sua independência em 1948.
O turismo e as remessas da diáspora, fundamentais para a economia da Sri Lanka, caíram durante a pandemia. E o governo impôs uma ampla proibição das importações para frear a sangria das divisas estrangeiras.
Muitos economistas afirmam que a crise se aprofundou pela má gestão do governo, acúmulo de dívidas e reduções de impostos.
O anúncio do toque de recolher e a decisão de enviar o exército para as ruas aconteceram antes das manifestações antigovernamentais planejadas para domingo. Os ativistas nas redes sociais incentivam as pessoas a protestar nas portas de suas casas.
A embaixadora dos Estados Unidos no Sri Lanka, Julie Chung, afirmou que os "cingaleses têm o direito de organizar manifestações pacíficas. É essencial para a expressão democrática".
A situação é tensa em várias regiões do país e foram relatados ataques esporádicos contra as residências de políticos do governo. Na estação montanhosa de Nuwara Eliya, manifestantes gritaram frases contra o presidente e a esposa do primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa, Shiranthi, foi impedida de inaugurar uma exposição anual de flores.
Durante o protesto de quinta-feira, os manifestantes incendiaram pneus para criar uma barricada na principal avenida de Colombo.
Centenas de pessoas caminharam em direção à casa presidencial para exigir a renúncia do chefe de Estado. Dois ônibus militares e um carro da polícia foram incendiados. As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersas os manifestantes.
O presidente Rajapaksa acusou os manifestantes de desejarem criar uma "primavera árabe", em referência às manifestações antigovernamentais que abalaram os países árabes há mais de uma década em reação à corrupção e à estagnação econômica.