Publicada em 28/05/2022 às 09h29
Porto Velho, RO – O ex-governador e atual senador da República emedebista Confúcio Moura agiu de forma completamente alheia ao seu comportamento tradicional, que, ao menos em termos de contenda política, historicamente, reside numa postura mais neutra, com críticas aleatórias e genéricas em suas prosas recheadas de analogias.
Somente neste mês em andamento, o congressista, “fora da casinha”, tirou a “cabeça do casco” e avançou contra o mandatário do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, do PL, para defender o nome de sua correligionária e colega de Câmara Alta Simone Tebet, do Mato Grosso do Sul.
Simone seria, no “frigir dos ovos”, um dos nomes derradeiros da terceira via para pleitear a sucessão do Poder na União, isto levando em conta também potencial postulação de Ciro Gomes, do PDT.
E se Confúcio, que já até deletou texto em seu blog particular onde criticava o presidente – isto por conta de pressão advinda de seus adeptos –, inflou-se de repente de coragem para dizer com todas as letras sua real compreensão a respeito do morador do Alvorada é porque está disposto a comprar o crachá de oposição de fato.
Sua mensagem foi explícita e sem rodeios, abrindo mão das filosofias baratas que regem grande parte do seu arcabouço retórico.
“O Brasil precisa de um novo presidente!”, exclamou.
CONFIRA
Em vídeo, senador de Rondônia diz: “O Brasil precisa de um novo presidente”; assista na integra
Quase dez dias antes, no entanto, Moura já demonstrou sua disposição para “despejar” o que pensa sem guardar segredo.
Em seu blog, “ressuscitou” texto que escrevera há 15 anos sobre o ex-governador Jerônimo Santana, que morreu em 2014.co
A mensagem, que na cabeça do congressista deveria soar como “homenagem” tornou-se um relato escatológico pormenorizado contornando negativamente um dos homens mais importantes da história rondoniense.
Confúcio Moura resume sua figura à pessoa obesa que usava a begala para equilibrar o peso de sua “enorme barriga”. Um glutão, que escondia comida no bolso do peletó; mau-educado, sem modos, que usava o banheiro de porta aberta, não lavava as mãos e até “peidava alto” em reunião com outros políticos.
E saindo de Jerônimo Santana, passando por Jair Bolsonaro, por fim desembocou às costas de Marcos Rocha, do União Brasil, que o sucedeu na condução do Estado.
Ele se diz acusado por “déficit em estado superavitário”.
Nas considerações distribuídas à imprensa pela sua assessoria, pontuou que na abertura da Feira Rondônia Rural Show, em Ji-Paraná, “Rocha afirmou ter assumido o cargo, em 2019, ‘com sérios problemas financeiros e um déficit de R$ 426 milhões para pagar a folha dos servidores públicos’”.
Para Confúcio Moura, “essa declaração repetida em diferentes ocasiões induziria ao cometimento de infrações de responsabilidade fiscal”.
E prossegue:
“Não me calarei mais diante de ofensas agressivas, falta de traquejo, descortesia e despolidez sem tamanho”, asseverou.
Complementou adjetivando:
“Ele (Rocha) é um mal agradecido, deselegante incapaz de obedecer o rito de um cerimonial, dando um tempo de três minutos ao menos para que parlamentares federais e estaduais presentes, pelo menos os do município de Ji-Paraná falassem no evento, e isso é importante, porque a fala deles ajuda o estado”.
E concluiu:
“Dentro das minhas possibilidades contribuirei para que o atual governador, essa negação política, não seja reeleito”, finalizou.
O problema é o timming de Confúcio Moura. O discurso de Marcos Rocha está alinhando com o que sempre alegou publicamente, o que chegou a gerar uma discussão indireta com o também ex-governador Daniel Pereira.
E a falta de tato do senador na hora de abordar um assunto batido, mostrando descontentamento quatro anos depois, pode acabar, inclusive, respingando no MDB, que hoje é comandado em Rondônia pelo deputado federal Lúcio Mosquini, líder da bancada federal.
A despeito de o partido ainda não ter batido o martelo em relação a apoiar ou deixar de apoiar quem quer que seja, a sigla tem perfil de posição e costuma aderir a quem já está com as rédeas.
Tivesse feito como Daniel Pereira, atualmente no Solidariedade, e reagido imediatamente à fala e às considerações lançadas, teria condições mais favoráveis para puxar a sanha opositora sem contornos de oportunismo.
Mas é 2022. É ano de eleição. E em ano de eleição, para a grande maioria no tabuleiro, vale tudo. Só não vale perder.