Publicada em 07/05/2022 às 09h58
Porto Velho, RO – Quem não conhece Adriano Aparecido de Siqueira, o Adriano Boiadeiro, pode se enganar e acabar acreditando que o sujeito rotineiramente em vídeos emulando o supressumo da moralidade e dos bons costumes fazendo cosplay de cowboy é, de fato, um arauto extraído da mais pura nata social.
Tirando isso, tem todo aquela composição forçada do macho alpha, o tipo que faz o impossível para provar que é homem.
Grita. Joga objetos. Bate com o facão na mesa. E de quebra ainda faz caras e bocas expressivas, gesticulando aos montes. Como se décibeis e saliva tivessem o condão de conceder à pessoa razão em suas reivindicações.
Porém, a pior parte, é a hipocrisia. A discrepância abissal entre o que se diz e as ações no campo empírico. Basta relembrar o ano de 2014, o afastamento sacramentado pelos próprios pares em sua época de membro-tampão da Assembleia (ALE/RO) e o retorno extravagante às funções no mesmo montado no cavalo, ato digno de sua personalidade exótica.
Depois disso, praticamente apagado da vida pública, reapareceu empunhando a lâmina para ameaçar o deputado Lebrão (MDB), autor do relatório que bateu o malhete sobre seu afastamento há oito anos. Ou quando em 2017 surgiu em imagens lamentáveis levando uma surra em um posto de gasolina de Jaru.
E é isso.
Esse prefácio serve para qualificar quem está agindo de maneira preconceituosa para ofender a honra de Fábio Schinayder, eleita, por voto, a princesa da Cavalgada de Candeias.
É a métrica do coletivo ardiloso que ajuda a encabeçar a horda obtusa a ofensas rasteiras, vis, imundas, alheias aos mais comezinhos conceitos de humanidade.
Sim, uma transsexual escolhida, que, de acordo com seu advogado, seguiu à risca todos os protocolos exigidos à competição.
Opinião é opinião. Transfobia é transfobia. No segundo caso, onde muitos desses comentários negativos podem, sim, acabar encaixados, há crime, sacramentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2019.
A criminalização da homofobia e transfobia prevê que:
"Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito" em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
A pena será de um a três anos, além de multa;
Se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa; e
E a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema”.
O advogado dela, Samuel Costa Menezes, já avisou:
“Registramos o Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia em Candeias do Jamari. Os autores dos ataques transfóbicos em face da Fabio Schinayder, vencedora do concurso da Cavalgada do Trabalhador, que por aclamação foi eleita 1º princesa na solenidade, serão responsabilizados pelos ataques e não ficarão impunes”, destacou.
E complementou:
“Eles certamente terão de prestar contas com a lei, tanto na esfera cívle quanto na criminal. Lembrando: homofobia é crime!”, sacramentou.
Costa inclusive alegou que a Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero LGBTQI+ da Ordem dos Advogados do Brasil (seccional Rondônia) se prontificou a auxiliar na identificação dos culpados, "onde serão interpelados judicialmente", encerrou.
Independentemente do ilícito, é perceptível que parte da sociedade já sucumbiu à ideia de que é válido humilhar, destratar, ofender e apedrejar, ainda que retoricamente, um semelhante, desde que este destoe às remotas compreensões de mundo patrocinadas pela patota intransigente autodeclarada conservadora.
No fim, cabe às instituições de fiscalização e controle e também às vítimas o papel de deixar claro a eventuais trogloditas de facões, chapéus e berrantes, seguros em seus universos paralelos, que há normas no plano da realidade.
Ou seja, na frente do Ministério Público (MP/RO) eles não aparecem empunhando facões. Na frente do Ministério Público Federal (MPF/RO) eles não aparecem empaunhando facões. Na frente da Polícia Civil (PC/RO) eles não aparecem empanhando facões. Na frente do Tribunal de Justiça (TJ/RO) eles não aparecem empunhando facões. Na frente do Comando-Geral da Polícia Militar (PM/RO) eles não aparecem empunhando facões.
E que essas normas defendidas, ou pelo menos teoricamente defendidas pelas entidades citadas, diferentemente do faz-de-conta em suas cabeças homofóbicas e mesquinhas, existem para impor educação de maneira pedagógica a esses corajosos de papel machê.