Publicada em 27/05/2022 às 15h23
Em cúpula em Berlim, grupo dos sete países mais industrializados se compromete pela primeira vez a trabalhar para abandonar energia movida a carvão. Um "sinal forte" para o resto do mundo, diz ministro alemão.
Os ministros de Energia e Meio Ambiente dos países que compõem o G7 se comprometeram nesta sexta-feira (27/05) a reduzir significativamente o uso de carvão e outros combustíveis fósseis na produção de eletricidade, com o objetivo de uma "eventual" eliminação completa.
O compromisso de Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Japão, Canadá e Estados Unidos, anunciado ao final de uma cúpula de três dias em Berlim, vem num momento em que a Europa busca novas fontes de energia para tentar reduzir sua dependência do petróleo e gás russos, em meio à guerra na Ucrânia.
A Alemanha, que ocupa atualmente a presidência rotativa do G7, insistiu que encontrar combustíveis fósseis alternativos não aconteceria à custa de objetivos ambientais.
Quando tomou posse em dezembro passado, o atual governo alemão prometeu antecipar em oito anos o prazo estabelecido por Berlim para eliminar o uso de carvão do país, para até 2030, e vem pressionando outras nações do G7 a também apresentarem seus planos.
O que o G7 acordou sobre carvão?
Em Berlim, os ministros dos sete países mais industrializados do mundo fizeram seu primeiro compromisso de abandonar a energia movida a carvão, responsável por grande parte das emissões globais de gases de efeito estufa.
Em comunicado conjunto, eles concordaram em "se comprometer ainda mais com a meta de alcançar setores de eletricidade predominantemente descarbonizados até 2035", que inclui "medidas concretas e oportunas em direção à meta de uma eventual eliminação progressiva da geração doméstica de energia a carvão".
Os ministros disseram que vão aumentar suas ambições em relação às energias renováveis e "rapidamente ampliar as tecnologias e políticas necessárias para a transição para energias limpas".
Que outros compromissos foram definidos?
O G7, incluindo pela primeira vez o Japão, concordou em encerrar o financiamento de projetos de combustíveis fósseis no exterior até o final deste ano – com algumas exceções, como aqueles aprovados visando segurança nacional e interesses geoestratégicos.
Ao reconhecer pela primeira vez que os subsídios para combustíveis fósseis são incompatíveis com as metas do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, de 2015, os ministros prometeram acabar com esses subsídios até 2025.
Também pela primeira vez, o G7 reconheceu que precisa ajudar os países mais vulneráveis a lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Assim, o grupo se comprometeu a aumentar o financiamento climático para países em desenvolvimento até 2025.
Os ministros também pediram aos bancos de desenvolvimento do mundo que apresentem seus planos a tempo da próxima cúpula climática das Nações Unidas, a COP27, no Egito, em novembro.
Em outro compromisso inédito, os países do G7 prometeram garantir um setor de transporte altamente descarbonizado até 2030, aumentando o uso de veículos com emissão zero, e também descarbonizar a indústria – particularmente no setor de aço e cimento.
Os ministros também afirmaram que vão aumentar a cooperação em projetos de hidrogênio verde. Além disso, o comunicado final incluiu uma forte ênfase na proteção da biodiversidade, dos oceanos e no combate à poluição causada pelo plástico.
"Sinal forte" para o resto do mundo
O ministro alemão da Economia, Robert Habeck, afirmou que o acordo envia um "forte sinal" para o mundo sobre a necessidade urgente de proteger o clima e o meio ambiente.
"Ninguém aqui precisa se convencer de que somos pioneiros orgulhosos da proteção climática. Mas estamos tentando recuperar o que não deu certo no passado – e esse também é o caso do financiamento climático", disse o ministro em entrevista coletiva.
Segundo Habeck, "recompensar comportamentos prejudiciais ao clima, seja por meio de subsídios diretos ou por meio de vantagens fiscais, é um absurdo, e esse absurdo precisa ser interrompido".
A ministra alemã do Meio Ambiente, Steffi Lemke, considerou que as negociações em Berlim foram um sucesso porque "as três crises existenciais do nosso tempo" – mudança climática, extinção global de espécies e resíduos plásticos – foram "pensadas em conjunto".
Em reação ao compromisso do G7, Alden Meyer, associado sênior do think tank de política climática E3G, disse ser "bom que o Japão, o maior financiador de combustíveis fósseis do mundo, agora tenha se juntado aos outros países do G7 em um compromisso compartilhado de acabar com o financiamento de combustíveis fósseis no exterior".
Já David Ryfisch, do grupo ambientalista Germanwatch, afirmou que o acordo representa um "progresso significativo", pois ocorreu durante "uma situação geopolítica muito difícil".
Acordo sobre energia renovável
Também nesta sexta-feira, a Alemanha e os Estados Unidos assinaram uma declaração com a intenção de assumir um papel de liderança internacional em definir uma estrutura para uma transição energética bem-sucedida.
O foco está em hidrogênio, energia eólica offshore, veículos de emissão zero e no apoio a países terceiros, explicou o ministro Habeck, à margem das negociações do G7.
O enviado dos EUA para o clima, John Kerry, destacou as oportunidades econômicas em torno da proteção climática, descrevendo-a como "o maior mercado que o mundo já viu". Segundo ele, proteger o planeta ficará muito mais caro se os investimentos não forem feitos cedo o suficiente.
Com sua cooperação, os dois países disseram que buscam encorajar outros países a também aproveitarem as oportunidades da transição energética.