Publicada em 10/05/2022 às 09h03
À medida que o maior conflito da Europa desde a Segunda Guerra Mundial se desenrola na Ucrânia, os principais assessores do governo Biden estão cada vez mais convencidos de que isso pode dar aos EUA uma vantagem inesperada – contra a China.
Autoridades dos EUA acreditam que os custos do conflito e as sanções impostas a Moscou deixarão a Rússia cambaleando nos próximos anos, enquanto a Europa reforça investimentos em defesa.
Isso significa que os EUA terão mais liberdade para acelerar seu foco de longo prazo na China, vista como o maior desafio futuro do país, segundo vários membros do governo entrevistados pela Bloomberg.
As autoridades reconhecem que o resultado da guerra é incerto. E tentativas anteriores de canalizar a atenção do governo americano para a Ásia acabaram prejudicadas por eventos no Oriente Médio e em outras partes do mundo, inclusive durante o governo de Barack Obama.
Mas mesmo com grande parte da atenção do governo focada na Ucrânia, as autoridades dizem acreditar que desta vez pode ser diferente. Elas e os principais congressistas de ambos os partidos alertam que Pequim observa de perto a resposta dos EUA e seus aliados à invasão, extraindo lições para quaisquer potenciais tensões sobre Taiwan.
A guerra na Ucrânia pode acabar sendo ruim para a mudança de foco rumo à Ásia no curto prazo, mas boa no longo prazo, disse Richard Fontaine, diretor executivo do Center for a New American Security e conselheiro do falecido senador republicano John McCain.
O movimento em direção à Ásia é considerado crítico, com o presidente Joe Biden e seus principais assessores dizendo que a China tenta cada vez mais usar sua influência econômica e militar para dobrar a “ordem internacional baseada em regras” à sua vontade, citando os movimentos do país para tomar maior controle de Hong Kong, expandir sua presença no Mar da China Meridional e reprimir a dissidência e os direitos humanos na região de Xinjiang.
Autoridades chinesas contestam essas caracterizações e dizem que os EUA deveriam superar sua visão de “Guerra Fria” do mundo.
Embora a invasão da Ucrânia pela Rússia tenha inicialmente parecido colocar a China - que há muito defende seu apoio à “integridade territorial” - em uma posição difícil, as autoridades em Pequim continuaram a elogiar sua parceria com Moscou.
Mas com a guerra agora se arrastando e as deficiências militares da Rússia se tornando mais óbvias, um alto funcionário dos EUA disse que uma aliança diplomática Pequim-Moscou, originalmente vista como um multiplicador de forças para a China, parece cada vez mais um peso.
O secretário da defesa dos EUA, Lloyd Austin, tem falado explicitamente sobre a esperança de Washington de que os reveses de Putin na Ucrânia minarão Moscou.
A Rússia “já perdeu muita capacidade militar e, francamente, muitas de suas tropas”, disse Austin a repórteres em 25 de abril. “Queremos ver a Russia enfraquecida ao ponto de não ser mais capaz de fazer as coisas que fez ao invadir a Ucrânia.”