Publicada em 10/05/2022 às 09h05
Temperatura média global pode ficar mais do que 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais nos próximos anos, diz relatório. Derretimento do gelo ártico e clima mais úmido no nordeste do Brasil são possíveis consequências.
O mundo tem 50% de chance de registrar um aquecimento de 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, mesmo que por um breve período, até 2026, afirmou nesta segunda-feira (09/05) a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Isso não significa que o mundo estaria cruzando o limite de aquecimento de longo prazo de 1,5 °C, que os cientistas estabeleceram como teto para evitar mudanças climáticas catastróficas. Mas um ano com um aquecimento de 1,5 °C poderia oferecer uma amostra de como seria cruzar esse limite por um longo período, afirmou a organização.
"Estamos cada vez mais perto de atingir temporariamente a meta mais baixa do Acordo de Paris", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. Assinado em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu como objetivo limitar o aumento da temperatura a 2 ºC, e, de preferência a menos de 1,5 ºC, em relação à era pré-industrial.
O ano mais quente registrado até agora foi 2016, quando a temperatura média ficou em torno de 1,2 °C acima dos níveis pré-industriais, que se referem ao período entre 1850 e 1900.
O relatório da OMM foi divulgado entre a última Conferência da ONU sobre o Clima – a COP26, que aconteceu em Glasgow, na Escócia – e a próxima, a COP27, que será realizada no Egito. Cerca de 30 mil participantes são esperados em Sharm-el-Sheikh, em novembro, incluindo 120 chefes de Estado e de governo.
Impactos de um aquecimento de 1,5 °C
A probabilidade de exceder 1,5 °C por um curto período vem aumentando desde 2015: em 2020, cientistas estimaram essa chance em 20% e a revisaram no ano passado para até 40%.
Mesmo um ano com 1,5 °C de aquecimento pode gerar impactos terríveis, como a destruição de recifes de coral mundo afora e a redução da cobertura de gelo no Ártico. Com um aumento da temperatura global, é provável que o clima fique mais seco no sudoeste dos EUA e da Europa nos próximos cinco anos e mais úmido na região do Sahel, na África, no norte da Europa, no nordeste do Brasil e na Austrália.
Em termos de média de longo prazo, a temperatura média global está agora cerca de 1,1 °C acima da média pré-industrial.
"Perdas e danos associados ou exacerbados pelas mudanças climáticas já estão ocorrendo, alguns deles provavelmente irreversíveis num futuro próximo", afirmou Maxx Dilley, vice-diretor de clima da OMM.
Políticas atuais pode levar a aquecimento de 3,2 °C
No âmbito do Acordo de Paris de 2015, os líderes mundiais se comprometeram a, idealmente, não cruzar o limite de 1,5 °C no longo prazo, mas, até agora, os países têm ficado aquém do objetivo de reduzir as emissões globais.
O nível de atividade econômica e políticas atuais colocam o mundo no caminho de um aquecimento de cerca de 3,2 °C até o final do século, preveem cientistas.
"É importante lembrar que, a falta de políticas de emissões baseadas na ciência significam que sofreremos impactos cada vez piores à medida que nos aproximamos de 1,6 °C ou 1,7 °C e de cada aumento de aquecimento posterior", explicou Kim Cobb, cientista climático do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA.