Publicada em 10/06/2022 às 09h51
Porto Velho, RO – Imagine a seguinte cena: o trabalhador acordando às 05h, o sol sequer raiou completamente, o breu ainda permeia o horizonte, e, com remela nos olhos pregados pelo sono, levanta, recolhe seu lixo, abre o portão de casa e na hora de colocá-lo no local de correta destinação...
...cadê a lixeira?
Furtada nas primeiras horas da madrugada por um malandro valente, aparentemente bem vestido, mochila nas costas e bastante obstinado.
O tipo começa a “lutar” com o emaranhado de ferro na Rua São Sebastião, Bairro Cohab, zona Sul. O local é curiosamente próximo à sede do Comando de Operações Especiais (COE), fato revelador no sentido de exemplificar a coragem do gatuno.
VEJA:
No vídeo gravado pelas câmeras de vigilância de uma casa vizinha, nem a passagem de um cidadão de bicicleta durante a incursão criminosa foi capaz de refrear o tipo.
Soa como bobagem. Situação comezinha. Algo corriqueiro que talvez não merecesse em tempos outros sequer nota de rodapé em qualquer jornal impresso, mesmo os de pequena circulação.
Porém, o imbróglio gira envolto ao tema de Segurança Pública onde os gargalos pululam: a matança desenfreada; assaltos; violência no campo; tirania urbana; de homem contra mulher; de mulher contra homem; de todos contra todos.
E é esse clima de permissividade que faz com que uma pessoa saia de casa – ou de qualquer outro lugar –, com intenção exclusiva de furtar uma simples lixeira.
E poderia ser a caixa de correios; hidrômetro e pedaços ou até mesmo o relógio medidor de energia elétrica inteiro.
Há uma banalização atmosférica em relação a condutas ilícitas. E o tapete vermelho está se alastrando de tal maneira que a bizarrice se torna comum, ordinária.
E quando algo assim se torna rotina, cidadãos avessos à bestialidade humana passam a internalizar o hábito de serem estropiados pelo que há de pior.
Não é responsabilidade exclusiva do Estado. A Polícia Militar (PM/RO) faz o seu papel. A Polícia Civil (PC/RO) cumpre as suas obrigações. O Ministério Público (MP/RO) age. E o Judiciário julga de acordo com o cardápio em mãos.
É especialmente no Congresso Nacional, com toda a sua alternância de membros, que reside tanto a guarida quanto conservação, por ora, desse panorama facilitado a malfeitores.
Se há críticas sobre o discurso relacionado ao senso comum, e deve haver mesmo, parte do povo já saturou.
Se alguém se sente confortável o suficiente para levar as coisas de outrem, “de cara” limpa, sem temer o testemunho alheio, esperando ainda de repente ser servido com cafezinho e brioche enquanto depena o patrimônio alheio, é porque passou do ponto.
Parte da solução passa pelas urnas. A outra, no entanto, tem a ver, no caso específico desses furtos de ferro para alimentar vício e outras deturpações de essência, pela identificação dos sucateiros.
Na realidade, identificação e punição de quem compra o produto do crime. Alguém banca. Alguém, em algum lugar fixo, paga para um terceiro retirar a posse de seus semelhantes. Terceiriza a empreitada ilegal.
E é hora de colocar um ponto final na estripulia.