Publicada em 20/06/2022 às 15h56
Um pescador local capturou a maior arraia de água doce do mundo no Camboja, anunciaram cientistas do país e dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20).
O peixe, capturado no dia 13, pesou cerca de 300 kg e 4 metros de comprimento, e foi solto novamente nas águas do rio Mekong, na província de Stung Treng, nordeste do país.
O feito foi anunciado pelo "Wonders of the Mekong", um projeto de pesquisa que une cientistas americanos e cambojanos. Segundo o grupo, o recorde anterior de tamanho para um peixe de água doce era de um peixe-gato gigante, também do Mekong, de 293 kg, descoberto na Tailândia em 2005.
O pescador que fisgou a arraia alertou o grupo – que já havia divulgado seu trabalho para as comunidades ao longo do rio – sobre a captura. Ele recebeu uma recompensa de US$ 600 (cerca de R$ 3,1 mil, equivalente a três salários mínimos mensais no Camboja).
Os cientistas chegaram ao local do achado poucas horas depois de receberem uma ligação, após a meia-noite, com as notícias – e ficaram surpresos com o que viram.
“Quando você vê um peixe desse tamanho, especialmente em água doce, é difícil de compreender, então acho que toda a nossa equipe ficou chocada”, disse Zeb Hogan, líder do Wonders of the Mekong.
A equipe inseriu um dispositivo de marcação perto da cauda da arraia antes de soltá-la de volta. O dispositivo enviará informações de rastreamento do peixe pelo próximo ano, fornecendo dados sobre o comportamento de arraias gigantes no Camboja.
Os moradores apelidaram a arraia de “Boramy”, ou “lua cheia”, por causa de seu formato redondo e porque a lua estava no horizonte quando ela foi novamente solta, no dia 14.
Mais que um recorde
Segundo Hogan, a captura da arraia não significa apenas um novo recorde. O pesquisador trabalha na Universidade de Nevada em Reno, no oeste dos Estados Unidos, que atua em parceria com a Administração de Pesca do Camboja e a USAID, a agência de desenvolvimento internacional do governo dos EUA.
“O fato de que o peixe ainda pode ficar tão grande é um sinal de esperança para o rio Mekong”, afirmou Hogan, observando que o rio enfrenta muitos desafios ambientais.
O rio Mekong atravessa a China, Mianmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnã. É o lar de várias espécies de peixes gigantes de água doce, mas as pressões ambientais sobre o rio vêm aumentando – os cientistas temem, em especial, que um grande programa de construção de barragens nos últimos anos possa estar prejudicando seriamente as áreas de desova.
“Os grandes peixes do mundo estão ameaçados de extinção. São espécies de alto valor. Levam muito tempo para amadurecer. Então, se eles são pescados antes de amadurecerem, eles não têm chance de se reproduzir”, disse Hogan.
“Muitos desses grandes peixes são migratórios, então precisam de grandes áreas para sobreviver. Eles são impactados por coisas como fragmentação de habitat por barragens, e [são] obviamente impactados pela pesca excessiva", lembrou o pesquisador.
"Portanto, cerca de 70% dos peixes gigantes de água doce em todo o mundo estão ameaçados de extinção", disse Hogan. O risco de extinção se estende a todas as espécies do rio Mekong.
Peixes de água doce são aqueles que passam a vida inteira em água doce, ao contrário de espécies marinhas gigantes – como o atum rabilho e o espadim, ou peixes que migram entre água doce e salgada, como o esturjão beluga.
Os pesquisadores dizem que é a quarta arraia gigante relatada na mesma área nos últimos dois meses, todas elas fêmeas. Eles acham que a região pode ser um local importante de desova para a espécie.
“A arraia gigante é um peixe muito mal compreendido. Seu nome, até mesmo seu nome científico, mudou várias vezes nos últimos 20 anos”, disse Hogan.
“Ela é encontrada em todo o sudeste da Ásia, mas quase não temos informações sobre ela. Não conhecemos sua história de vida. Não sabemos sobre sua ecologia, sobre seus padrões de migração”, concluiu.