Publicada em 11/06/2022 às 09h04
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chegou neste sábado (11) à Kiev para uma visita dedicada ao pedido de entrada da Ucrânia na União Europeia (UE). Ela se reúne com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, e o primeiro-ministro Denys Chmygal.
"Vamos discutir sobre o trabalho em comum necessário para a reconstrução e os progressos obtidos pela Ucrânia em direção à Europa", afirmou Von der Leyen a jornalistas em Kiev. A presidente da Comissão Europeia já havia viajado a Kiev no último 8 de abril.
A Ucrânia reclama um "engajamento jurídico" concreto até o final deste mês da parte dos europeus para obter um status de candidato oficial à entrada na UE, sobre a qual não há consenso entre os 27 países-membros. Líderes do bloco devem se pronunciar na próxima semana sobre a questão, antes de uma cúpula em 23 e 24 de junho que prevê abordar o assunto.
Intensos combates no leste
Von der Leyen chega à Ucrânia em um momento de intensificação dos combates no leste. Na manhã deste sábado, o escritório de Zelensky anunciou que bombardeios foram realizados durante à noite pelos "ocupantes" em várias cidades do Donbass, principalmente nos arredores de Kharkiv, Lugansk e Donetsk.
"A Rússia quer devastar cada cidade do Donbass, cada uma delas, sem exagero", afirmou o presidente ucraniano na noite de sexta-feira. "Os militares ucranianos fazem de tudo para colocar um fim aos ataques dos ocupantes, com todas as armas pesadas e a artilharia moderna que a Ucrânia possui", reiterou, reforçando o apelo por material militar aos países ocidentais.
Em Severodonetsk, o principal alvo da Rússia no leste, os combates continuam. As tropas russas controlam a maior parte desta cidade considerada estratégica para Moscou.
"O inimigo continua a atacar Severodonetsk", indicou nesta manhã o Exército ucraniano em comunicado. Segundo a nota, as tropas do país conseguiram barrar 14 ataques nas regiões de Donetsk e Lugansk nas 24 últimas 24 horas, mas os russos avançam nos arredores do município de Orikhovo.
Epidemia de cólera em Mariupol
Kiev também fez um apelo neste sábado à comunidade internacional por ajuda humanitária, diante da propagação de doenças como a cólera e a disenteria, em Mariupol, no sudeste do país. Nesta cidade que foi reduzida à ruínas pelo exército russo, as estruturas sanitárias foram completamente destruídas e cadávares estão há semanas espalhados pelas ruas.
"A guerra que levou 20 mil habitantes, infelizmente com essas infecções vai custar a vida de milhares de moradores a mais", afirmou o prefeito de Mariupol, Vadym Boïtchenko. Ele também pediu que a ONU e a o Comitê Internacional da Cruz Vermelha organize um corredor humanitário para permitir a retirada de pessoas que não conseguiram deixar a localidade até o momento.
Nas cidades que puderam ser retomadas pelas tropas ucranianas, organismos independentes realizam investigações sobre possíveis crimes de guerra. A ONG Human Rights Watch publicou na sexta-feira (10) um relatório sobre o trabalho que realizou em Tchernihiv, a 120 quilômetros ao norte de Kiev, que foi cercada pelas tropas russas em março.
Segundo a ONG, a Rússia violou as convenções atualmente em vigor, assassinando cidadãos ucranianos de forma indiscriminada. Uma das investigadoras, Belkis Willé, trabalhou no local e conversou com a RFI.
"Muitos dos ataques que documentamos claramente violam as leis da guerra. Por exemplo, uma dessas agressões custou a vida de 47 civis ucranianos, em uma área onde não havia nenhum alvo militar", diz.
Para chegar a essa conclusão, o grupo passou uma semana no local reunindo informações e provas, como imagens de satélite, fotos e vídeos, além do registro de testemunhos dos moradores. "Espero que autoridades - sejam elas do Tribunal Penal Internacional, da Ucrânia ou de outros países europeus - deem sequência a essas investigações para pedir explicações aos comandandantes russos que ordenaram e permitiram que esses ataques ocorressem", salientou.