Publicada em 06/07/2022 às 14h28
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou para a Procuradoria-Geral da República as suspeitas de que o presidente Jair Bolsonaro interferiu nas investigações de corrupção e tráfico de influência no Ministério da Educação. A Polícia Federal apura o favorecimento de pastores na distribuição de verbas da pasta.
Caberá à Procuradoria avaliar se há elementos para abrir uma manifestação formal contra Bolsonaro. Neste momento, Bolsonaro não é alvo da investigação.
As investigações foram enviadas ao Supremo pela Justiça Federal em Brasília após a Polícia Federal e o Ministério Público Federal terem apontado indícios de que Bolsonaro teria alertado o ex-ministro Milton Ribeiro sobre a operação da PF.
Segundo interceptação telefônica feita pela Polícia Federal, em 9 de junho, Ribeiro disse a uma filha que Bolsonaro havia lhe relatado "pressentimento" de que o ex-ministro poderia ser usado para atingir o presidente. Na conversa, Ribeiro também fala da possibilidade de ser alvo de busca e apreensão, como de fato foi, dias depois.
"Hoje, o presidente me ligou. Ele está com um pressentimento novamente de que podem querer atingi-lo através de mim, sabe?", disse Ribeiro. Em seguida, o ex-ministro afirma: "Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa, sabe? Bom, isso pode acontecer, se houver indícios, mas não há porquê", disse o ex-ministro.
Investigação
No fim de junho, Milton Ribeiro foi preso em uma operação da Polícia Federal que investiga desvio de verbas do Ministério da Educação por meio de pastores que supostamente pediam propina a prefeitos para acelerar a liberação de recursos da pastas. No dia seguinte, por ordem judicial, o ex-ministro e os pastores foram soltos.
O delegado responsável pela operação, Bruno Callandrini, em mensagem enviada a colegas da Polícia Federal, apontou "interferência" na investigação. Segundo ele, Milton Ribeiro estava "ciente da execução de busca e apreensão".
O Ministério Público Federal também viu interferência no caso e, com base nas ligações interceptadas e nas afirmações do delegado, pediu à Justiça para investigar eventual participação de Bolsonaro.
O juiz Renato Boreli, da 15ª Vara de Justiça Federal de Brasília, atendeu ao pedido do Ministério Público Federal e remeteu o caso para o STF.