Publicada em 04/07/2022 às 14h57
"O exército não participará do diálogo" nacional organizado no Sudão, patrocinado pela ONU e pela União Africana (UA), anunciou nesta segunda-feira (4) o general golpista Abdel Fatah al-Burhan, para permitir que os civis formem um "governo de personalidades competentes".
O general fez o anúncio na televisão, enquanto centenas de sudaneses se manifestavam pelo quinto dia consecutivo em Cartum e nos subúrbios da capital para exigir que os militares abandonassem o poder e denunciassem a repressão, que já deixou 114 mortos.
Também anunciou que "depois da formação de um governo que se ocupe dos assuntos, dissolveremos o Conselho Soberano e formaremos um Conselho Supremo das Forças Armadas", que também incluirá os paramilitares e que passará a estar encarregado apenas das questões de "defesa e segurança".
O Conselho Soberano, a máxima autoridade de transição no Sudão, foi formado em 2019 após a "revolução" que levou à destituição do ditador Omar al Bashir, que estava há trinta anos no poder.
Depois disso, foi formado um governo de transição que incluía civis e militares e que estava liderado pelo economista Abdalá Hamdok. No entanto, em 25 de outubro de 2021, o golpe liderado pelo general Burhan encerrou a frágil divisão de poderes.
Os civis foram afastados do Conselho Soberano e do governo e o poder ficou em mãos dos militares e de seus aliados paramilitares e ex-rebeldes armados.
Desde então, manifestações pró-democracia acontecem todas as semanas. O movimento perdeu força há alguns meses, mas parece ter recuperado força desde quinta-feira, após a morte de nove manifestantes.
Pelo menos 114 pessoas foram mortas desde o golpe e centenas ficaram feridas na repressão dos protestos.