Publicada em 06/07/2022 às 14h43
Rios secos, colheitas ameaçadas, água racionada... o norte da Itália vive uma verdadeira emergência climática e enfrenta uma seca histórica devido à falta de chuva, mas também devido ao envelhecimento das infraestruturas e ao baixo investimento.
"Nunca vi uma seca tão prolongada. A situação é dramática. Se o problema da água persistir, perderemos 100% da colheita", afirma Gianluigi Tacchini, produtor de arroz na cidade de Santa Cristina e Bissone, cerca de quarenta quilômetros ao sul de Milão.
No início do ano, notou um aumento da seca porque "não havia neve nas montanhas e faltava água nos lagos", portanto reduziu em 50% as plantações de arroz e aumentou as de girassol, menos dependentes da irrigação.
Obrigado a tomar decisões, sacrificou um campo de milho. O abastecimento de água do Lago de Como "foi reduzido em 75% e pode parar completamente se o nível da água cair ainda mais", alertou Tacchini em entrevista à AFP.
A produção de arroz, que precisa de muita água, pode ser reduzida em 30% este ano, segundo cálculos da associação dos produtores Coldiretti.
No delta do Pó, o maior rio da Itália, entre Veneza e San Marino (leste), o nível da água é tão baixo que as águas salgadas do mar Adriático subiram até 30 quilômetros terra adentro, um recorde histórico.
Em alguns lugares, o Observatório do Pó calculou que a água chegou a sete metros abaixo do nível normal.
- Estado de emergência -
Desde maio, a península italiana enfrenta uma onda de calor excepcional acompanhada da escassez de chuvas, principalmente as extensas planícies do Pó, afetadas por sua pior seca em 70 anos.
O governo declarou na segunda-feira o estado de emergência em cinco regiões (Emilia-Romanha, Friul-Veneza Júlia, Lombardia, Vêneto e Piamonte), quatro delas banhadas pelo Pó e criou um fundo extraordinário de 36,5 milhões euros (mais de 37 milhões de dólares) para enfrentar a seca.
Diante do grave fenômeno, vários municípios anunciaram medidas. Verona, com 250.000 habitantes, racionou o uso de água potável, enquanto Milão decidiu fechar todas as fontes públicas.
Segundo Coldiretti, a seca ameaça 30% da produção agrícola nacional e metade da do Vale do Pó, entre as mais importantes para a economia italiana, devido ao cultivo de trigo e milho, ao processamento de beterraba açucareira, à criação intensiva de bovinos e suínos para a produção, entre outros, do presunto de Parma.
"De janeiro a maio, choveu 44% menos do que o normal, algo sem precedentes desde o final da década de 1950", destaca Francesco Cioffi, professor associado do departamento de hidrologia da Universidade La Sapienza, em Roma.
"A ausência de uma gestão eficaz dos recursos hídricos nos últimos anos agravou a situação", explicou à AFP, depois de pedir "um plano extraordinário de modernização do sistema hídrico e de previsão".
De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística Istat, divulgados em 2020, 36% das reservas de água da Itália se perdem devido ao mau estado das tubulações e do sistema de armazenamento.
Esse número sobe para mais de 70% na cidade de Chieti, capital de Abruzzo, na costa do Adriático.
Para Cioffi, é preciso modernizar as redes e melhorar a gestão interna para reduzir tanto desperdício. "Era preciso investir mais e melhor para que o território ficasse menos vulnerável", considera.