Publicada em 15/07/2022 às 09h55
O primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, foi empossado como presidente interino do país nesta sexta-feira (15), substituindo Gotabaya Rajapaksa, que renunciou após fugir para o exílio. Uma nova eleição foi marcada no Parlamento para a próxima semana.
Conforme exige a constituição do Sri Lanka, Wickremesinghe prestou juramento na presença da juíza da Suprema Corte, Jayantha Jayasuriya, informou o gabinete dele em um comunicado.
O presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardana, anunciou na manhã desta sexta-feira ter aceitado a renúncia de Rajapaksa, que está em Singapura. Ele fugiu do país, um arquipélago no oceano Índico localizado ao sul da Índia, sob pressão da população que sofre com a crise financeira e a escassez de produtos essenciais. Pouco depois da fuga, o gabinete do primeiro-ministro declarou estado de emergência e instaurou um toque de recolher na capital Colombo.
Nova eleição
Na próxima quarta-feira (20), O Parlamento do Sri Lanka vai eleger um deputado para suceder Rajapaksa até o final do mandato, ou seja, novembro de 2024. As indicações para a presidência serão recebidas na terça-feira (19) e os parlamentares terão de votar no dia seguinte, explicou o gabinete do Presidente da Câmara, em um breve comunicado.
Rajapaksa fugiu de sua residência, após o local ter sido invadido por manifestantes que acusavam o presidente de má gestão. O Sri Lanka enfrenta a maior crise econômica de sua história. O país declarou moratória da dívida de US$ 51 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em abril e está em negociações com o Fundo Monetário Internacional.
Os manifestantes encerraram a ocupação de prédios públicos na capital Colombo na quinta-feira (14), mas garantiram que continuarão pressionando o poder. O premiê Wickremesinghe também é alvo dos protestos da população e seu escritório chegou a ser invadido por manifestantes que exigem uma mudança política no país, mergulhado no caos econômico e no autoritarismo. A crise foi agravada pela pandemia de Covid-19 e a população de 22 milhões de habitantes é privada de serviços básicos, de alimentos, medicamentos e combustíveis
Comemoração nas ruas
Na noite de quinta-feira, centenas de pessoas desafiaram o toque de recolher em vigor na capital Colombo para se reunir em frente à sede da presidência. O local foi o ponto de encontro do movimento de protesto que começou há três meses e reuniu aqueles que comemoravam a notícia da renúncia.
“Esta é uma vitória monumental e histórica para todos os cingaleses. Gotabaya e Mahinda Rajapaksa nunca iriam desistir. Fomos nós, cidadãos do Sri Lanka, exercendo nosso direito de protesto pacífico, que os afugentamos. E vamos continuar, para criar um Sri Lanka melhor”, prometeu um homem. “O principal culpado foi Gotabaya Rajapaksa, então é um alívio que ele tenha renunciado. Mas Ranil Wickremesinghe também deve sair, só assim podemos criar este Sri Lanka melhor”, disse outro manifestante em entrevista à RFI.
Exílio
Após deixar o país na quarta-feira (13) em direção às ilhas Maldivas, Rajapaksa pegou um avião para Singapura no dia seguinte, de onde enviou a sua carta de demissão. Segundo fontes de segurança, o político viajou com a esposa e dois guarda-costas e ficará em Singapura por algum tempo, antes de seguir para os Emirados Árabes Unidos.
De acordo com a imprensa local, o agora ex-chefe de Estado havia exigido inicialmente um jato particular, recusando-se a fazer um voo comercial com outros passageiros, devido à recepção hostil que recebeu quando chegou às Maldivas. Ele foi zombado e insultado ao deixar o aeroporto de Velana e um protesto foi organizado na capital Malé para exigir que o governo das Maldivas não lhe permitisse passar livremente.
O Ministério das Relações Exteriores de Singapura, por sua vez, disse que Gotabaya Rajapaksa foi autorizado a entrar para uma visita privada e não para pedir asilo. Rajapaksa é o primeiro chefe de Estado a renunciar desde que o Sri Lanka optou pelo regime presidencial, em 1978.