Publicada em 20/07/2022 às 15h02
A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou, nesta quarta-feira (20), centenas de assassinatos e violações dos direitos humanos pelo Talibã, desde que os fundamentalistas islâmicos tomaram o poder no Afeganistão no ano passado.
"Não se pode negar que as conclusões do nosso relatório são extremamente sérias", disse Markus Potzel, chefe da missão do organismo internacional no Afeganistão (UNAMA), em uma coletiva de imprensa organizada em Cabul.
Um relatório da UNAMA divulgado nesta quarta-feira lista diversas violações.
A ONU documentou desde agosto 160 denúncias de execuções extrajudiciais, 56 incidentes de tortura e maus-tratos e mais de 170 prisões e detenções arbitrárias contra ex-funcionários do governo e membros das forças de segurança nacional.
Os métodos de tortura mais comuns incluem chutes, socos e tapas, espancamento com cabos e canos, além de dispositivos de choque elétrico.
A UNAMA reconheceu mais de 200 casos de penas cruéis, desumanas ou degradantes, incluindo o espancamento de comerciantes por não frequentarem a mesquita, além dos mais de 100 relatos de uso excessivo da força.
Os talibãs negaram em diversas ocasiões as acusações de abusos dos direitos humanos desde que derrubaram o antigo governo apoiado pelo Ocidente.
Nesta quarta-feira, voltaram a rejeitar as acusações e chamaram o relatório da ONU de "falso" e "propaganda".
"Não está autorizado no país nenhum tipo de assassinato ou detenção arbitrária. Se alguém mata ou prende arbitrariamente outra pessoa, será considerado um criminoso e será julgado pela sharia (lei islâmica)", declarou no Twitter o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid.
Desde o final da guerra, a segurança melhorou muito em todo o país com um declínio no número de civis mortos.
No entanto, conhecidos pelo regime brutal de terror entre 1996 e 2001, os talibãs restringiram drasticamente a liberdade dos afegãos, especialmente das mulheres e meninas.
A missão das Nações Unidas tem 87 relatos de violência contra as mulheres, incluindo assassinato, violações, suicídio, agressões, lesões, assassinato por honra e casamento forçado, incluindo com crianças. Nenhum deles foi registrado na justiça ordinária.
Entre os casos compilados, está o de um casal publicamente apedrejado por ser acusado de manter relações.
A chefe da missão de direitos humanos no Afeganistão, Fiona Frazer, constatou que "prevalece a impunidade" e reconheceu a possibilidade de subnotificação das denúncias.
Frazer expressou sua preocupação com a participação da polícia religiosa e o serviço de inteligência dos talibãs nos abusos.
Ainda assim, a missão especificou mais de 700 civis mortos, ao menos 1.400 pessoas feridas pelos ataques, assim como minas não detonadas atribuídas principalmente ao braço local do Estado Islâmico.