Publicada em 18/08/2022 às 15h10
Em meio à tensão entre a China e os Estados Unidos sobre o destino de Taiwan, Washington anunciou, na quarta-feira (17), que as negociações formais com Taipei começarão no outono (do hemisfério Norte). O objetivo é fortalecer os laços comerciais e econômicos entre os dois lados. A reação em Pequim não demorou. A China condena esse anúncio e ameaça responder a ele.
Mesmo que o comércio já seja importante entre Taipei e Washington, nenhum acordo comercial vinculativo une Taiwan e os Estados Unidos. Por enquanto, os termos escolhidos são vagos e amplos para essas negociações, que só começarão neste outono, de acordo com o escritório do Representante de Comércio dos EUA.
Ainda não se trata de um acordo de livre comércio, que alguns em Taipei estão pedindo. Taiwan não foi incluída na nova Parceria Econômica do Indo-Pacífico, lançada em maio por Joe Biden. Washington não quer colocar os outros treze membros em desacordo com Pequim.
As negociações fazem parte da Iniciativa de Comércio do Século 21 EUA-Taiwan, lançada em junho por Katherine Tai, a chefe de comércio dos EUA, e o ministro taiwanês, John Deng, durante uma reunião virtual. O acordo desperta a fúria de Pequim.
Resposta a “políticas e métodos hostis ao mercado”
Desde 1994, o comércio bilateral tem crescido de forma constante com a ilha, após a assinatura de uma portaria de comércio e investimentos.
Em 2020, as transações entre os americanos e taiwaneses atingiram o pico de US$ 106 bilhões, o que torna Taiwan o nono maior parceiro comercial dos Estados Unidos, graças às exportações da ilha e de sua indústria de tecnologia.
No anúncio de negociações publicado nesta quarta-feira, Washington propõe fortalecer ainda mais suas trocas comerciais e refletir "juntos" sobre as respostas necessárias a "políticas e métodos contrários ao mercado", que os analistas entenderam como uma referência às práticas da China.
Pequim “se opõe fortemente”
Pequim, obviamente, tem uma visão muito negativa desta "nova iniciativa", que é percebida como uma provocação e um sinal de maior envolvimento de Washington com o governo de Taiwan. Isso após o apoio político e da visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, no início do mês, como relata o correspondente da RFI em Pequim, Stéphane Lagarde.
Após a nova crise, desencadeada pela viagem da democrata americana a Taipei, o confronto entre as duas principais potências mundiais continua.
“A China se opõe firmemente às negociações comerciais entre os Estados Unidos e Taiwan”, afirmou Shu Jueting. O porta-voz do ministério do Comércio chinês diz que tudo será feito para “salvaguardar a soberania da China e salvaguardar os interesses da China”.
A agência Nova China acusou a Casa Branca mais uma vez, neste fim de semana, de "brincar com o fogo", após a chegada, no domingo (14), de parlamentares americanos à ilha. A visita de cinco pessoas, um senador e quatro deputados, democratas e republicanos, acontece dias depois das maiores manobras militares já realizadas pela China em torno da ilha.
De sua parte, o governo dos EUA está anunciando "um programa ambicioso para concluir compromissos comerciais de alto nível" num futuro próximo.
A China considera que Taiwan, uma ilha com cerca de 23 milhões de habitantes, é uma de suas províncias que ainda não foi reunificada com o restante do território desde o fim da guerra civil chinesa em 1949.