Publicada em 31/08/2022 às 09h12
A calma reina nesta quarta-feira (31) em Bagdá, cerca de 24 horas após o surto violento que abalou o país, mas o impasse político que já dura quase um ano não parece se resolver, apesar das propostas para sair da crise.
O surto de violência armada na Zona Verde – uma área ultraprotegida da capital iraquiana onde estão localizadas embaixadas e ministérios – deixou 30 mortos e quase 600 feridos entre os apoiadores do líder xiita Moqtada Sadr.
O anúncio deste clérigo de sua retirada da vida política foi a faísca que acendeu a revolta, e se faltava prova de sua influência na vida pública, no segundo em que Sadr ordenou a retirada de suas fileiras na terça-feira, os fuzis silenciaram e os combatentes foram embora da Zona Verde.
Na quarta-feira, o toque de recolher decretado para controlar o caos não passou de uma lembrança e Bagdá voltou aos engarrafamentos habituais, as lojas reabriram e até os estudantes terão que voltar às aulas, anunciou o Ministério da Educação.
A violência desencadeada por 24 horas entre segunda e terça-feira foi o culminar de uma longa crise política que começou após as eleições legislativas no Iraque em 2021.
No conflito, as Brigadas de Paz de Sadr entraram em confronto com unidades do exército iraquiano e ex-combatentes paramilitares pró-iranianos integrados às tropas regulares.
Mas apesar da calmaria, este país rico em petróleo, mas que sofre uma grave crise econômica e social, ainda não tem um primeiro-ministro nem um novo governo.
Isso ocorre porque os líderes xiitas - incluindo Sadr - não conseguem chegar a um acordo.
Para sair da crise, Sadr e seus adversários do Marco de Coordenação, uma aliança pró-iraniana, concordam que é necessário ter novas eleições.
Mas, para organizar novas legislativas, o atual Parlamento deve ser dissolvido e isso só pode ser feito por voto dos deputados com maioria absoluta ou solicitado por um terço dos deputados ou pelo primeiro-ministro, com a concordância do presidente da república.
Nessa disputa, "o grande perdedor é o Estado que assiste, sem poder fazer nada, os dois grupos com poder lutarem pelo poder", disse Sajjad Jiyad, analista do think tank Century International.