Publicada em 04/08/2022 às 15h18
Brittney Griner havia sido detida no aeroporto de Moscou levando cartuchos com óleo de cânabis para vaporizador, dias antes da invasão da Ucrânia. Washington sugeriu troca de prisioneiros a Moscou, sem sucesso.
Um tribunal russo condenou Brittney Griner, estrela do basquetebol americano, a nove anos de prisão por posse e contrabando de drogas nesta quinta-feira (04/08).
A atleta de 31 anos, tricampeã da liga feminina da NBA e duas vezes medalhista de ouro nas Olimpíadas, havia sido detida no aeroporto de Moscou com cartuchos com óleo de cânabis em sua mala, para serem usados em vaporizador, dias antes da invasão da Ucrânia.
Em julho, Griner confessou ser culpada pela posse dos cartuchos, mas disse que não tinha a intenção de infringir a lei russa.
"Quero que o tribunal entenda que foi um erro honesto que cometi enquanto estava apressada, sob estresse, tentando me recuperar após a covid e apenas tentando me encontrar com meu time", reafirmou ela nesta quinta-feira.
A esportista também pediu desculpas a seus colegas e pessoas próximas. "Quero pedir desculpas aos meus colegas de equipe, ao meu clube, aos meus fãs e à cidade de [Yekaterinburg] pelo erro que cometi e pelo embaraço que lhes causei", disse antes de receber a sentença.
"Quero também pedir desculpas aos meus pais, aos meus irmãos, à organização Phoenix Mercury em casa, às incríveis mulheres da WNBA e à minha maravilhosa esposa em casa", acrescentou, com a voz embargada.
A juíza Anna Sotnikova concluiu que Griner havia cometido o crime "deliberadamente", ao não declarar seus pertences no aeroporto, e a sentença ficou próxima da pena máxima de 10 anos. Ela também foi multada em 1 milhão de rublos (R$ 84 mil).
Cânabis medicinal
Griner estava indo à Rússia para jogar basquete no time UMMC Ekaterinburg, fora da temporada da NBA, uma prática comum para estrelas americanas do esporte que desejam ganhar recursos extras.
Em audiências anteriores, ela disse que era regularmente examinada por ligas dos Estados Unidos, da Rússia e da Europa. Ela também afirmou que havia recebido uma prescrição de um médico americano para usar cânabis medicinal para alívio da dor de suas múltiplas contusões, "da coluna vertebral a cartilagens".
Biden diz que sentença é "inaceitável"
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a sentença era "inaceitável" e pediu a Moscou que a libertasse imediatamente.
"Hoje, a cidadã americana Brittney Griner recebeu uma sentença de prisão que é mais um lembrete do que o mundo já sabia: a Rússia está detendo Brittney injustamente", disse Biden em uma declaração.
Os advogados da esportista recorrerão da sentença, e afirmaram que estavam "desapontados" com o fato de o tribunal ter ignorado provas que eles haviam apresentado, bem como a declaração de culpa de Griner.
Oferta de troca de prisioneiros
A prisão de Griner ocorreu em um momento de acirramento de tensões entre Moscou e Washington. Em julho, antes do início de seu julgamento, o Departamento de Estado dos EUA classificou Griner como "detida injustamente". A Rússia negou que sua detenção tenha sido motivada pelas tensões entre os dois países.
Nesta quinta-feira, Griner disse esperar que o contexto geopolítico não influísse no resultado de seu julgamento. "Sei que todo mundo está falando de peões do tabuleiro e política, mas espero que isso esteja longe desta sala de audiências", afirmou.
Na semana passada, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, sobre uma possível troca de prisioneiros envolvendo a estrela do basquetebol.
Os EUA teriam oferecido colocar em liberdade o traficante de armas Viktor Boutin, já condenado, em troca de Griner e do ex-fuzileiro naval americano Paul Whelan.
A conversa entre Blinken e Lavrov foi o contato de nível hierárquico mais elevado conhecido entre Washington e Moscou desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse na segunda-feira que a Rússia respondeu à oferta com "má-fé", fazendo uma contraproposta que as autoridades americanas não consideram séria, sem dar maiores detalhes.