Publicada em 14/09/2022 às 09h29
Armênia e Azerbaijão trocaram acusações nesta quarta-feira (14) sobre a retomada dos ataques na fronteira, um dia depois dos confrontos mais violentos entre os dois países do Cáucaso desde a guerra de 2020 pela região disputada de Nagorno-Karabakh, o que deixa o processo de paz em risco.
A Rússia anunciou na terça-feira que negociou um cessar-fogo depois dos confrontos que deixaram mais de 100 soldados mortos dos dois países.
Mas os dois países trocaram acusações sobre uma violação da trégua.
O ministério da Defesa da Armênia afirmou que o "inimigo retomou o ataque usando artilharia, morteiros e armas de fogo de grande calibre nas direções de Jermuk e Verin Shorzha", na fronteira.
"Apesar da reação clara da comunidade internacional sobre a situação, a liderança política e militar do Azerbaijão continua de fato com seus atos de agressão contra o território soberano da Armênia, apontando contra a infraestrutura militar e civil", acrescentou.
Na terça-feira à noite, o ministério da Defesa do Azerbaijão acusou as forças da Armênia de "violação do cessar-fogo (...) com bombardeios contra posições azerbaijanas perto de Kalbayar e Lachin com morteiros e peças de artilharia.
A escalada de terça-feira aconteceu no momento em que a Rússia, principal aliado de Yerevan na região e que enviou milhares de soldados de manutenção de paz à região após a guerra de 2020, está ocupada com a invasão da Ucrânia.
O conflito em território ucraniano alterou o equilíbrio de forças na região dado o crescente isolamento internacional da Rússia.
Desde então, a União Europeia (UE) passou a liderar o processo de normalização das relações entre Armênia e Azerbaijão, que inclui negociações para a paz, a delimitação de fronteiras e a reabertura das conexões de transporte.
O analista Gela Vasadze, do Centro de Análises Estratégicas da Geórgia, disse que a escalada "acabou com os esforços liderados pela UE para aproximar Baku e Yerevan de um acordo de paz".
"Os acordos de Bruxelas estão praticamente anulados", disse. Além disso, os confrontos “radicalizaram ainda mais a opinião pública nos dois países".
Durante as conversas mediadas pela UE em Bruxelas em abril e maio, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, e o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, concordaram em "avançar nas discussões" para um futuro tratado de paz.
Na terça-feira, a Armênia pediu ajuda aos líderes mundiais. UE, Estados Unidos, França, Rússia, Irã e Turquia expressaram preocupação com a escalada e pediram o fim das hostilidades.
Armênia e Azerbaijão, duas ex-repúblicas soviéticas rivais do Cáucaso, travaram duas guerras nas últimas três décadas pelo controle da região de Nagorno-Karabakh.
As seis semanas de combates em 2020 deixaram mais de 6.500 mortos e terminaram com um cessar-fogo mediado pela Rússia, que enviou quase 2.000 soldados para supervisionar a trégua.
Com o acordo, a Armênia cedeu partes do território que controlou durante décadas.
Os separatistas de etnia armênia de Nagorno-Karabakh se separaram do Azerbaijão com o colapso da União Soviética em 1991. O conflito posterior provocou quase 30.000 mortes.