Publicada em 26/09/2022 às 09h36
A Itália entrou nesta segunda-feira (26) em um período de incerteza após a vitória nas eleições legislativas de Giorgia Meloni, que lidera uma coalizão de extrema-direita e direita, que enfrentará grandes desafios econômicos e políticos.
Depois de conquistar a maioria absoluta no Parlamento, a líder do partido Irmãos da Itália (Fratelli d'Italia, pós-fascista) e seus aliados Matteo Salvini, da Liga (anti-imigração), e Silvio Berlusconi, do Força Itália (direita), tentarão formar o governo nos próximos dias.
A apuração dos votos confirmou na manhã desta segunda-feira a grande vantagem de Meloni, que recebeu mais de 26% dos votos. Seu partido tornou-se a principal força do país, à frente do Partido Democrata (PD, centro-esquerda) de Enrico Letta (19%).
Com a Liga e o Força Itália, ela terá maioria absoluta na Câmara dos Deputados e no Senado.
Em seu primeiro discurso após a eleição, Meloni prometeu "governar para todos" os italianos. "Vamos trabalhar com o objetivo de unir o povo", disse.
"A Itália tem cinco anos pela frente da estabilidade", afirmou Salvini, enquanto o magnata Berlusconi retorna ao Senado depois de ter sido expulso do Parlamento em 2013 por sua condenação por fraude fiscal.
"Seremos determinantes e decisivos. Obrigado a todos", tuitou Berlusconi, que retorna aos holofotes poucos dias depois de completar 86 anos.
A imprensa conservadora celebra o resultado. "Revolução nas urnas", afirma Il Giornale, o jornal da família Berlusconi. "A esquerda derrotada (somos) livres!!!", destaca o jornal Libero.
"Meloni toma a Itália" é a manchete do La Repubblica, jornal de esquerda que fez muitas críticas à líder do Irmãos da Itália durante a campanha. O La Stampa menciona as "mil incógnitas" que na Itália após a "vitória histórica" da extrema-direita.
"O fato de isto acontecer um mês antes do centenário da marcha sobre Roma e do início da ditadura de 20 anos de Mussolini é uma coincidência: os italianos que votaram em Meloni não o fizeram por nostalgia do fascismo, mas o fator comum entre o autocrata fascista e a senhora Meloni é que chegam ao poder ao final de uma maratona solitária contra tudo e contra todos", afirma o jornal de Turim.
A UE afirmou que trabalha com todos os governos que emergem das eleições no bloco e espera uma cooperação com o novo Executivo da Itália.
"Esperamos ter uma cooperação construtiva com as novas autoridades italianas. No momento, esperamos que a Itália proceda com a nomeação de um governo", disse Eric Mamer, porta-voz da Comissão Europeia, o braço Executivo da UE.
O governo da Alemanha afirmou esperar que Itália continua "muito favorável a Europa", apesar da vitória do partido pós-fascista nas urnas.
"A Itália é um país muito favorável a Europa, com cidadãos e cidadãs muito favoráveis a Europa. E partimos do princípio de que isto não mudará", disse Wolfgang Büchner, porta-voz do governo alemão.
- Desafios econômicos -
O novo Executivo sucederá o governo de unidade nacional liderado desde janeiro de 2021 por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que assumiu o governo da terceira maior economia da zona do euro quando o país enfrentava as dificuldades da pandemia.
Draghi negociou com a UE uma ajuda financeira de quase 200 bilhões de euros, em troca de profundas reformas econômicas e institucionais do país.
Apesar do que estava em jogo, vários partidos que aceitaram integrar o governo decidiram derrubar o Executivo de Draghi nos últimos meses por motivos puramente eleitorais, o que provocou a convocação de legislativas antecipadas.
"Super Mario", apresentado como o salvador da zona do euro durante a crise financeira de 2008, era visto como uma garantia de credibilidade pelos aliados europeus, mas a chegada ao poder da extrema-direita nacionalista, eurocética e soberanista provoca o temor de uma nova era de instabilidade.
O novo governo terá que administrar a crise provocada por uma inflação galopante, enquanto a Itália enfrenta uma dívida que representa 150% do PIB, a segunda maior da Eurozona, atrás apenas da Grécia.
A Bolsa de Milão operava em alta nesta segunda-feira, pois os mercados já antecipavam a vitória do partido pós-fascista. Na sexta-feira, registrou queda de 3,36%.
O "spread", a diferença entre o rendimento dos títulos a 10 anos da dívida alemã (referência na Europa) e o dos títulos da Itália, subiu 235 pontos nesta segunda-feira, um sinal da persistente preocupação entre os investidores sobre a dívida da Itália.