Publicada em 24/09/2022 às 09h31
Subiu para 35 o balanço de vítimas nos protestos contra a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos. Neste sábado (24), uma agência de imprensa oficial do Irã informou que 739 manifestantes foram presos no norte do país na véspera, entre elas 60 mulheres.
Teerã voltou a ser palco de manifestações na noite desta sexta-feira, uma semana depois do início dos protestos desencadeados pela morte da jovem, detida pela polícia moral do país por usar o véu islâmico de forma julgada incorreta. Vídeos publicados nas redes sociais mostram um militar atirando nos manifestantes, cena que tornou comum durante os eventos.
A organização de oposição Iran Human Rights, com sede em Oslo, afirma que o número real de mortes pode ser de 50 até agora. Esta ONG informou que houve protestos em cerca de 80 localidades iranianas na última semana.
A Anistia Internacional, que na noite de sexta-feira pediu "uma ação global urgente para acabar com a repressão", disse que reuniu evidências de 20 cidades em todo o Irã mostrando "um padrão... de forças de segurança iranianas disparando deliberadamente e ilegalmente munição real contra manifestantes". A ONG alertou para "o risco de mais derramamento de sangue no contexto de um apagão deliberadamente imposto na internet".
A polícia já prendeu um número indeterminado de pessoas, conforme veículos de imprensa iranianos. As autoridades, que descrevem os manifestantes como "contrarrevolucionários" ou "conspiradores", decidiram organizar suas próprias manifestações após as orações de sexta-feira, com a presença de centenas de mulheres cobertas integralmente, algumas com burcas.
Investigação da morte
Mahsa Amini foi preso em 13 de setembro em Teerã por "usar roupas inadequadas", na avaliação da polícia, ao cumprir o rígido código de vestimenta da República Islâmica. A jovem morreu três dias depois no hospital.
No Irã, as mulheres devem cobrir o cabelo e não podem usar casacos curtos ou apertados, nem calças jeans rasgados.
Na noite de sexta-feira, o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, reiterou que Mahsa Amini não havia sido espancado pelas forças de segurança.
"Recebemos relatórios dos serviços de vigilância, ouvimos testemunhas, analisamos vídeos, obtivemos pareceres forenses e constatamos que não houve espancamentos", indicou Vahidi na televisão. Segundo ele, o governo iraniano está investigando "a causa da morte de Mahsa Amini, (mas) temos que esperar o parecer final do médico legista, o que leva tempo".
Repressão de protestos
O ministro também criticou "aqueles que assumiram posições irresponsáveis, (...) e incitaram a violência", acusando-os de "seguir os Estados Unidos, países europeus e grupos antirrevolucionários". Em comunicado divulgado no sábado, o Ministério do Interior alertou que continuará a "lidar com os distúrbios para proteger os direitos dos cidadãos, "respeitando todas as normas legais e islâmicas".
Em várias cidades do Irã – um país com uma população de mais de 80 milhões, dos quais 90% são xiitas –, manifestantes entraram em confronto com as forças de segurança, incendiaram veículos policiais e gritaram slogans antigovernamentais, segundo relatos da mídia e ativistas.
Depois de uma marcha de vários milhares de pessoas a favor do uso obrigatório do véu, a pedido das autoridades, novas manifestações noturnas ocorreram na sexta-feira em Teerã e em outras grandes cidades, incluindo Tabriz.