Publicada em 13/09/2022 às 10h43
O papa Francisco iniciou nesta terça-feira (13) uma viagem de três dias ao Cazaquistão com o objetivo de enviar uma mensagem de paz em uma região marcada por tensões. O presidente deste país da Ásia Central é um tradicional aliado da Rússia, mas o relacionamento com Moscou está estremecido desde o início da guerra na Ucrânia.
O sumo pontífice foi desaconselhado pelos médicos a viajar para a Ucrânia num futuro imediato e admitiu que precisa desacelerar suas atividades. Mesmo assim, ele decidiu participar da cúpula interreligiosa em Nur-Sultan, capital do Cazaquistão. O papa também vai visitar a minoria católica local, vestígio da deportação das populações de alemães e poloneses durante a era comunista.
Cem delegações de cerca de 50 países participarão nos dias 14 e 15 de setembro do evento nessa ex-república soviética que se tornou independente em 1991. Essa 38ª viagem internacional do papa é simbólica, pois ao visitar o Cazaquistão, o sumo pontífice vai até as fronteiras com a Rússia e a China, dois países com os quais a Igreja Católica mantém relações complexas.
O clima de desconforto geopolítico começou antes mesmo do início da viagem. A presença do patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa, próximo ao presidente Vladimir Putin, era esperada, mas o religioso cancelou sua participação na cúpula sem dar motivos, varrendo as esperanças de Francisco de conversar sobre a guerra na Ucrânia.
As opiniões de ambos os líderes religiosos colidem nesta questão: o papa pediu paz e denuncia "uma guerra cruel e sem sentido", enquanto Kirill defende a "operação militar" e a luta contra "inimigos internos e externos" da Rússia.
Já o presidente chinês, Xi Jinping, estará neste país da Ásia Central ao mesmo tempo que Francisco, mas nenhuma reunião é esperada, apesar das esperanças do Vaticano de renovar um acordo histórico para nomear seus bispos no gigante asiático.
Ambições imperiais de Moscou
Francisco é recebido pelo presidente Kassym Khomart Tokayev. O líder de 69 anos é um tradicional aliado da Rússia, mas a invasão da Ucrânia em fevereiro prejudicou seu relacionamento com Moscou. O presidente cazaque evitou endossar a invasão e teme um renascimento das ambições imperiais de Moscou no norte do Cazaquistão, onde há uma grande comunidade russa.
Rico em recursos energéticos, o Cazaquistão tem 19 milhões de habitantes, dos quais 70% são muçulmanos sunitas e 25% são cristãos, principalmente ortodoxos russos. Apenas 1% é católico.
Tokayev iniciou uma série de reformas após sua eleição em 2019, mas o país foi abalado por protestos contra os altos preços dos combustíveis no início do ano, que deixaram 200 mortos e destruíram sua imagem de estabilidade.
Francisco é o segundo papa a visitar o Cazaquistão. João Paulo II visitou o país em setembro de 2001.