Publicada em 02/09/2022 às 08h46
O presidente argentino, Alberto Fernández, classificou o episódio como "o mais grave desde 1983, quando o país voltou a ser uma democracia" e declarou feriado nacional nesta sexta-feira (2). A vice-presidente, Cristina Kirchner, foi vítima de uma tentativa de assassinato cometida por um brasileiro motorista do Uber, radicado em Buenos Aires.
"Decidi declarar feriado nacional para que, em paz e harmonia, o povo argentino possa expressar-se em defesa da vida, da democracia e solidarizar-se com nossa vice-presidente", anunciou Alberto Fernández durante um pronunciamento em rede nacional, na madrugada desta sexta-feira (2).
Fernando André Sabag Montiel, brasileiro, de 35 anos, radicado na cidade de Buenos Aires, apontou uma pistola a poucos centímetros do rosto da vice-presidente, Cristina Kirchner. O incidente aconteceu por volta das 21h desta quinta-feira (1), quando ela saudava um grupo de militantes na frente de sua residência. A arma chegou a ser engatilhada, mas o tiro falhou.
"Estamos diante de um fato com uma gravidade institucional e humana extrema. Atentaram contra a nossa vice-presidente e a paz social foi alterada", afirmou o presidente, acrescentando que "este atentado merece o mais enérgico repúdio de toda a sociedade argentina e de todos os setores políticos".
Alberto Fernández atribuiu o atentado "ao discurso de ódio que tem sido espalhado a partir de espaços políticos, judiciais e midiáticos", declarou. "Cristina está viva porque, por alguma razão ainda não confirmada tecnicamente, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido engatilhada", descreveu Alberto Fernández.
"O presidente está brincando com fogo: em vez de investigar seriamente um fato de gravidade, acusa a oposição e a imprensa, e decreta um feriado para mobilizar militantes. Transforma um ato de violência numa jogada política. É lamentáve;", criticou a líder opositora Patricia Bullrich.
Através das imagens captadas pelos canais de TV e pelos celulares de militantes, Fernando Montiel aparece de gorro preto entre os militantes que aguardavam a chegada de Cristina Kirchner em frente ao seu domicílio no bairro de La Recoleta. Nas imagens, o brasileiro estica o braço esquerdo e aponta a pistola na altura da cabeça da ex-presidente. Também é possível ouvir o gatilho antes do disparo.
Cristina Kirchner, ao ver a arma, chega a se abaixar, sem, no entanto, demonstrar susto nem temor. A vice-presidente continuou a assinar livros, a tirar fotos e a cumprimentar a militância durante vários minutos, como se nada tivesse acontecido.
Brasileiro é motorista do Uber
Os seguranças de Cristina Kirchner conseguiram deter o agressor com a ajuda dos militantes. Em seguida, o brasileiro foi preso. Fernando Sabag Montiel, conhecido nas redes sociais como Fernando Salim, nasceu em 13 de janeiro de 1987, trabalha como motorista de Uber e tem antecedentes por porte de arma ilegal não-convencional em 17 de março de 2021. Ele foi flagrado com um facão de 35 cm "para a sua segurança pessoal", alegou o brasileiro residente no bairro de La Paternal, em Buenos Aires.
Em março do ano passado, a Polícia desconfiou do carro que Fernando dirigia devido à ausência da placa traseira, que Fernando atribuiu a uma colisão. Quando o suspeito abriu a porta para mostrar o documento do carro, o facão caiu.
Desde o dia 22 de agosto, quando o Ministério Público pediu 12 anos de prisão para Cristina Kirchner por crimes de corrupção, milhares de militantes têm sido incentivados a uma vigília diária em frente à residência da ex-presidente, que costuma cumprimentar os militantes ao chegar em casa. O brasileiro misturou-se entre os manifestantes para tentar o crime.O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, confirmou que o agressor foi preso e que a arma está passando por uma perícia.