Publicada em 19/09/2022 às 15h35
Um tribunal popular que realizou uma série de audiências sobre assassinatos de jornalistas condenou, nesta segunda-feira (19), México, Sri Lanka e Síria e pediu uma revisão "independente e completa" das medidas em vigor para proteger a imprensa.
Composta por juristas internacionais, a corte ouviu durante seis meses declarações sobre o assassinato de Lasantha Wickrematunge, em 2009 no Sri Lanka, o de Miguel Ángel López Velasco no México, em 2011, e o de Nabil Al-Sharbaji na Síria, em 2015.
Os três países são culpados de "violações dos direitos", "por seus atos de omissão, especialmente a falta de investigação, a ausência de reparação às vítimas e a impunidade", declarou o juiz argentino Eduardo Bertoni.
O tribunal, localizado em uma igreja do século XVII em Haia, julgou a incapacidade desses países de proteger a vida dos jornalistas, o que "demonstra a falta de uma vontade ampla" de levar à justiça os criminosos em questão.
"A impunidade deve acabar", reiterou o juiz Gill Boehringer.
Boehringer mencionou uma série de medidas necessárias para tal, especialmente "uma análise independente e abrangente da aparente incapacidade das iniciativas da comunidade internacional" para proteger a imprensa, em grande parte por meio das Nações Unidas.
Em meio a uma crescente no autoritarismo e populismo, a questão dos crimes contra jornalistas continua "e se agrava no mundo inteiro", declarou a juíza do tribunal Helen Jarvis.
O assassinato da jornalista americana-palestina Shireen Abu Akleh, em 11 de maio, "demonstra de maneira dramática o problema de estabelecer a responsabilidade dos autores e de quem os comandava e sua apresentação à justiça", acrescentou a juíza Marina Forti.
O primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, se opôs a levar à justiça o soldado que atirou em Abu Akleh, da emissora Al Jazeera, enquanto cobria um ataque militar israelense ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel.
O tribunal especial foi criado por três grandes organizações de defesa da liberdade de imprensa: Repórteres sem fronteiras (RSF), Free Press Unlimited (FPU) e o Comitê para a proteção de jornalistas (CPJ).
Mais de 2.170 jornalistas foram mortos em todo o mundo desde 1992 e, na grande maioria dos casos, os assassinos estão livres, declarou o CPJ.