Publicada em 08/09/2022 às 14h46
O drama das inundações no Paquistão parece longe do fim. Mais que isso, o desastre dá sinais de que pode assumir maiores proporções. Com um em cada sete habitantes afetado e 6,4 milhões de pessoas precisando urgentemente de ajuda humanitária, o país vive sob novos riscos de fortes chuvas e mais enchentes.
Chuvas de monções excepcionais e o transbordamento de rios, após o derretimento acelerado das geleiras no norte do país, contribuem para o cenário de caos no Paquistão.
As inundações atingiram cerca de 33 milhões de pessoas e já mataram pelo menos 1.314, incluindo 458 crianças, de acordo com a Agência Nacional de Gerenciamento de Desastres do Paquistão. Um número que pode aumentar à medida que equipes de resgate e de ajuda humanitária chegarem a mais áreas atingidas pelo desastre.
Em Dadu, um dos distritos da província de Sindh, a mais atingida do país, as autoridades pediram que milhares de pessoas deixassem suas casas. O nível da água continua a subir diariamente em algumas áreas, como no distrito de KN Shah e seus subúrbios. A rodovia dos Indus, que atravessa esse distrito, está submersa. Os sinais de trânsito estão acima no nível da água, mas centenas de casas desapareceram sob as enchentes.
O nível da água chega a três metros em diversas regiões, deixando visível apenas a parte superior das fachadas de prédios mais altos, como o de alguns colégios.
Vivendo sobre os telhados
No coração de KN Shah, as equipes de resgate da fundação paquistanesa Edhi prestaram socorro a cerca de 1,2 mil pessoas nos últimos cinco dias. Para levar ajuda, eles começam a navegar sob as águas nas primeiras horas do dia à procura de aldeias submersas, onde resgatam pessoas que ficaram isoladas ou levam água potável para aqueles que não querem deixar suas casas. Muitos se recusam a abandonar suas residências por medo de saques.
Homens enviam suas esposas e filhos para se abrigarem com parentes em áreas não inundadas ou em campos de emergência, mas ficam em suas residências para protegê-las dos roubos. Em KN Shah, pelo menos 200 homens se recusam a deixar suas casas. Eles se instalam sobre os telhados, apesar dos riscos de desabamento.
As ruas, transformadas em rios, estão cheias de lixo, e cobras circulam pelas águas. Mas o maior receio são os escorpiões, muito numerosos em Sindh, uma vez que não há acesso a hospitais em caso de emergência.
Também não há acesso à água potável ou a alimentos. Redes de eletricidade e de telecomunicações estão suspensas, tornando essas pessoas ainda mais isoladas do mundo. O único meio de se abastecer é utilizando os barcos de socorristas ou de pescadores, mas estes últimos cobram pelos deslocamentos.
Lago Manchar
No momento, os temores de novas inundações vêm do lago Manchar, que fica a 80 km do distrito de Dadu. O lago, geralmente usado para o armazenamento de água, hoje transborda. Com suas válvulas submetidas à alta pressão, milhares de casas estão ameaçadas.
Autoridades abriram alguns acessos que permitem que a água flua para algumas aldeias que serão inundadas, o que deve permitir que os distritos de Dadu e de Sewan, que são muito populosos, sejam poupados. Cerca de 100 mil pessoas tiveram que ser deslocadas por causa do escoamento das águas do lago.
Mas a população se pergunta se a estratégia será suficiente, uma vez que as águas da chuva que caem nas montanhas da província vizinha do Baluchistão também podem chegar ao lago Manchar, aumentando ainda mais o volume de água represado no local.
Criando um cenário ainda mais sombrio, os serviços meteorológicos preveem mais chuvas para os próximos dias.