Publicada em 10/10/2022 às 09h30
Os norte-americanos Ben S. Bernanke, Douglas W. Diamond e Philip H. Dybvig foram premiados nesta segunda-feira (10) com o prêmio Nobel de Economia 2022.
Os pesquisadores foram premiados pelos estudos sobre bancos e sua relação com as crises financeiras.
Ben S. Bernanke, de 68 anos, foi presidente do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) de 2006 a 2014 e trabalha na The Brookings Institution, em Washington, EUA. Ele é especializado em bancos e crises financeiras.
Douglas W. Diamond, de 68 anos, é professor de finanças, crise financeira e liquidez da Universidade de Chicago, também nos EUA.
Philip H. Dybvig, de 67 anos, é professor de bancos e finanças na Universidade de Washington.
Eles desenvolveram modelos teóricos que explicam por que os bancos existem, como seu papel na sociedade os torna vulneráveis a rumores sobre seu colapso iminente e como a sociedade pode diminuir essa vulnerabilidade.
"O trabalho pelo qual Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig estão sendo reconhecidos foi crucial para pesquisas subsequentes que melhoraram nossa compreensão sobre bancos, regulamentação bancária, crises bancárias e como as crises financeiras devem ser gerenciadas", informou a Real Academia de Ciências da Suécia.
Além disso, o prêmio reconheceu os três economistas por terem melhorado significativamente a compreensão do papel dos bancos, particularmente durante crises financeiras, e também sobre como regular os mercados financeiros e por que evitar colapsos de bancos é vital para a economia.
Os pesquisadores receberão o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 900 mil), dividido igualmente pelos três.
Como bancos mexem com a economia
Usando fontes históricas e métodos estatísticos, a análise de Bernanke mostrou quais fatores foram importantes na queda do Produto Interno Bruto (PIB). Ele descobriu que fatores diretamente ligados a bancos que entraram em falência foram responsáveis pela maior parte dessa queda.
Ben Bernanke analisou ainda a Grande Depressão da década de 1930 e mostrou como as corridas bancárias foram um fator decisivo para que a crise se tornasse tão profunda e prolongada.
"A pesquisa apresentada pelos laureados deste ano reduz o risco de crises financeiras se transformarem em depressões de longo prazo com graves consequências para a sociedade, o que é do maior benefício para todos nós", informou a organização do prêmio.
De acordo com Real Academia de Ciências da Suécia, Diamond mostrou como os bancos desempenham uma função socialmente importante. Como intermediários entre poupadores e mutuários, os bancos são mais adequados para avaliar a qualidade de crédito dos mutuários e garantir que os empréstimos sejam usados para bons investimentos.
Diamond e Dybvig apresentaram ainda uma solução para a vulnerabilidade bancária, na forma de seguro de depósito do governo. Quando os correntistas sabem que o Estado garante seu dinheiro, eles não precisam mais correr para os bancos assim que começam os rumores sobre possíveis quebradeiras ou corridas bancárias.
Descobertas melhoraram a forma de lidar com crises financeiras
A pesquisa de Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig começou no início dos anos 1980 buscando esclarecer a razão da existência dos bancos, como torná-los menos vulneráveis a crises e como os colapsos bancários exacerbam essas crises financeiras.
Para que a economia funcione, a poupança deve ser canalizada para investimentos. No entanto, os poupadores querem acesso instantâneo ao seu dinheiro em caso de gastos inesperados, enquanto as empresas e os proprietários precisam saber que não serão forçados a pagar seus empréstimos.
Diamond e Dybvig mostram como os bancos oferecem uma solução para esse problema. Atuando como intermediários que aceitam depósitos de muitos poupadores, os bancos podem permitir que os depositantes acessem seu dinheiro quando quiserem, ao mesmo tempo em que oferecem empréstimos de longo prazo aos tomadores.
No entanto, a análise também mostrou como isso torna os bancos vulneráveis a rumores sobre seu colapso iminente. Se um grande número de poupadores correr simultaneamente para o banco para retirar seu dinheiro, o boato pode se tornar uma profecia auto-realizável – ocorre uma corrida ao banco e o banco entra em colapso.
Segundo eles, essas dinâmicas podem ser evitadas se o governo fornecer seguro de depósito e atuar como credor de última instância para os bancos.
Diamond demonstrou como os bancos desempenham outra função socialmente importante. Como intermediários entre muitos poupadores e mutuários, os bancos são mais adequados para avaliar a qualidade de crédito dos mutuários e garantir que os empréstimos sejam usados para bons investimentos.
Com a análise da Grande Depressão, reconhecida como a pior crise econômica da era moderna por Bernanke, o economista demonstrou o efeito decisivo dos saques nos bancos no aprofundamento e prolongamento da crise que se instalou na época.
Quando os bancos entraram em colapso, informações sobre os mutuários foram perdidas e não puderam ser recuperadas rapidamente. A capacidade da sociedade de canalizar a poupança para investimentos produtivos foi severamente diminuída.
“Os insights dos laureados melhoraram nossa capacidade de evitar crises sérias e resgates caros”, afirmou Tore Ellingsen, presidente do Comitê do Prêmio em Ciências Econômicas.
Os outros vencedores do prêmio Nobel deste ano foram:
Paz: Ales Bialiatski e organizações da Rússia e da Ucrânia
Literatura: Annie Ernaux
Química: Carolyn R. Bertozzi, Morten Meldal e K. Barry Sharpless
Medicina: Svante Pääbo
Física: Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger
Prêmio Nobel: o que é, quais são as categorias e como são escolhidos os vencedores
Vencedores mais velhos e apenas duas mulheres
Até agora, somente duas mulheres foram laureadas no prêmio. Em 2019, o prêmio foi atribuído a um trio de pesquisadores especializados no combate à pobreza, os americanos Abhijit Banerjee e Michael Kremer e a franco-americana Esther Duflo, segunda mulher distinguida na disciplina e a mais jovem laureada da história deste prêmio, na época com 46 anos.
A primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia foi a norte-americana Ellinor Ostrom, em 2009.
Economia tem sido, até agora, o Nobel onde o perfil do futuro vencedor é o mais fácil de adivinhar: homem com mais de 55 anos de nacionalidade americana.
Nos últimos 20 anos, três quartos deles se enquadram nessa descrição. A média de idade dos vencedores também é superior a 65 anos, a maior entre os seis prêmios.
O prêmio
O prêmio de Economia, oficialmente chamado de "Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel", foi criado em 1968 e concedido pela primeira vez em 1969.
A homenagem não fazia parte do grupo original de cinco prêmios estabelecidos pelo testamento do industrialista sueco Alfred Nobel, criador da dinamite. Os outros prêmios Nobel (Medicina, Física, Química, Literatura e Paz) foram entregues pela primeira vez em 1901.
O Nobel de Economia é o último concedido este ano. Os prêmios de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz já foram anunciados nos últimos dias.
Embora seja o prêmio de maior prestígio para um pesquisador em economia, o prêmio não adquiriu o mesmo status das disciplinas escolhidas por Alfred Nobel em seu testamento de fundação (Medicina, Física, Química, Paz e Literatura) - seus detratores zombam dele como um "falso Nobel" que representa economistas ortodoxos e liberais.
Últimos ganhadores do Nobel de Economia
2021: David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, por seus estudos para entender os efeitos de salário mínimo, imigração e educação no mercado de trabalho.
2020: Paul R. Milgrom e Robert B. Wilson (EUA), por seus trabalhos na melhoria da teoria e invenções de novos formatos de leilões.
2019: Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer (EUA), por seus seus trabalhos no combate à pobreza.
2018: William D. Nordhaus e Paul M. Romer (EUA), por seus estudos sobre economia sustentável e crescimento econômico a longo prazo.
2017: Richard Thaler (Estados Unidos), por sua pesquisa sobre as consequências dos mecanismos psicológicos e sociais nas decisões dos consumidores e dos investidores.
2016: Oliver Hart (Reino Unido/Estados Unidos) e Bengt Holmström (Finlândia), por suas contribuições à teoria dos contratos.
2015: Angus Deaton (Reino Unido/Estados Unidos) por seus estudos sobre "o consumo, a pobreza e o bem-estar".
2014: Jean Tirole (França), por sua "análise do poder do mercado e de sua regulação".
2013: Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre os mercados financeiros.
2012: Lloyd Shapley e Alvin Roth (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre a melhor maneira de adequar a oferta e a demanda em um mercado, com aplicações nas doações de órgãos e na educação.
2011: Thomas Sargent e Christopher Sims (Estados Unidos), por trabalhos que permitem entender como acontecimentos imprevistos ou políticas programadas influenciam os indicadores macroeconômicos.
2010: Peter Diamond, Dale Mortensen (Estados Unidos) e Christopher Pissarides (Chipre/Reino Unido), um trio que melhorou a análise dos mercados nos quais a oferta e a demanda têm dificuldades para se acoplar, especialmente no mercado de trabalho.
2009: Ellinor Ostrom e Oliver Williamson (Estados Unidos), por seus trabalhos separados que mostram que a empresa e as associações de usuários são às vezes mais eficazes que o mercado.
2008: Paul Krugman (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre o comércio internacional.