Publicada em 28/10/2022 às 10h16
Rondônia chega ao fim do segundo turno das eleições 2022 sem um favorito entre os dois candidatos. Independente de quem seja eleito, Marcos Rogério (PL) ou Marcos Rocha (União Brasil), o bolsonarismo já sai vencedor e o meio ambiente, o maior derrotado. A disputa entre os dois Marcos se dá entre quem é mais aliado de Jair Bolsonaro (PL). No Estado que deu vitória em todos os 52 municípios ao presidente no primeiro turno, o voto para a Presidência e para o governo do Estado gira em torno não pela pauta da defesa da floresta, do solo, da água ou da vida dos povos originários. O que predomina nessa escolha é o antipetismo expresso em justificativas como as de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se for eleito, defende o aborto, vai fechar igrejas, destruir famílias, apoiar pautas LGBTQIA+ e até minar a heterossexualidade.
Reportagem da Amazônia Real ouviu eleitores rondonienses para compreender o que motivou o crescimento da direita nos últimos anos no Estado. Os moradores das diferentes regiões da capital falam de pautas de costumes para justificar o voto em Bolsonaro e nos dois candidatos que disputam o governo de Rondônia no segundo turno. Comerciantes, aposentados, estudantes, empresários, funcionários públicos, todos conservadores, indicam apoiar teorias da conspiraçao, dizem ser contra o aborto e já decidiram manter um voto de confiança à agenda antiambiental.
Frequentadora da igreja evangélica Assembléia de Deus, Elba de Freitas vai repetir a dobradinha Bolsonaro e Marcos Rogério no próximo domingo (30). “Porque eles defendem os valores da família. Tenho filhos e penso no que vai ficar para o futuro dos meus netos. Eu não quero um mundo para meus netos onde eles não vão ter liberdade de expressão, não vão poder proferir a sua fé, não poderão ter escolhas como hoje nós temos. Quero deixar um Brasil melhor para eles”, justifica. Ex-eleitora do Partido dos Trabalhadores, a técnica de radiologia explica por que não vota em Lula. “Das propostas que ele tem hoje em relação à ideologia de gênero, a limitar a comunicação dos jornais e ele é a favor do aborto, eu sou contra, porque eu sou cristã. E a palavra de Deus diz que isso é abominável, e só Deus pode tirar e dar a vida”.
O voto evangélico orienta o Estado com o maior número de pentecostais, neopentecostais e presbiterianos do Brasil, segundo o Censo de 2010, o último já realizado. Com o atraso da realização dessa pesquisa, não se tem ideia precisa do avanço desse eleitorado no Brasil. Mas a aposta de Bolsonaro, nítida na participação da primeira-dama e da ex-ministra Damares Alves, eleita senadora, é de abocanhar a maioria desse eleitorado. Elba de Freitas, quando perguntada sobre temas ligados à preservação ambiental e proteção dos direitos dos indígenas, ela apresenta visões que ajudam a entender o motivo de seu voto bolsonarista.
“Em relação às queimadas eu sofro, porque meu marido tem sinusite crônica. Geralmente nessa época (de queimadas), eu sofro por que ele coloca muito sangue pelo nariz, sofre com dores na face, dores de cabeça. A gente tem fé no nosso próximo governo, o Bolsonaro, o Marcos Rogério, se eles forem eleitos. Eu acredito que eles vão fazer algo, sim, pelo meio ambiente. Esperamos que eles façam algo para melhorar e diminuir essas queimadas”, fala Elba de Freitas. “Os índios estavam nas suas terras desde o princípio. Então eu acredito que deve ser preservado o índio no local de origem dele. Já o garimpo sempre existiu aqui em Porto Velho. Isso é natural da cidade. Deve haver mais fiscalização para que não prejudique o rio, a pesca e os pescadores. Deve ter um equilíbrio”, diz ela que é natural de uma família de pescadores. Além de funcionária pública, a eleitora evangélica complementa a renda trabalhando em uma lanchonete no centro de Porto Velho.
“Voto em Bolsonaro pela linha ideológica dele, por ser cristão como eu. Acredito que ele tenha falhas como todo mundo, não é a melhor opção, mas no outro (Lula) não voto de forma alguma”, fala a comerciante Gabriela Salomão, 32 anos. No calor escaldante de pleno meio-dia em Porto Velho, ela se desdobra no restaurante com pouca ventilação que mantém na região central da capital. Entre um pedido e outro, leva pratos com comida e recebe os pagamentos dos clientes, que elogiam a boa alimentação e o baixo preço.
A rotina da empreendedora só termina no fim da tarde. À noite ela faz compras para repor os alimentos e preparar o cardápio do dia seguinte. Na pandemia, estava desempregada e teve que contar com ajuda do auxílio-emergencial de 600 reais. Gabriela afirma que convive com refugiados e, por influência deles, não concorda com as propostas do PT. “Eles falam (venezuelanos) que a gente não sabe de maneira alguma o que é socialismo de verdade. O que é passar fome, o que é ver sua moeda desvalorizar”, relata a comerciante.