Publicada em 21/10/2022 às 14h16
O Ministério Público Federal (MPF) informou nesta sexta-feira (21) que está instaurando um procedimento para averiguar a manifestação publicada pelo deputado federal Bibo Nunes (PL) pelo Rio Grande do Sul em suas redes sociais. No vídeo, Nunes diz que estudantes das universidades federais de Santa Maria (UFSM) e Pelotas (UFPEL) "merecem queimar vivos". A ação do MPF atende representação do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Valdecir Oliveira (PT), e do radialista Luciano Guerra.
Na imagem, Bibo faz ofensas aos alunos, chamando-os de inúteis, lixo, escória e até de "débeis mentais". Na sequência, diz que os alunos mereciam ser queimados vivos. (Veja no vídeo acima)
“Ser rico e não ter noção, como esses aí. É o filme tropa de elite. Sabe o que aconteceu? Olha o filme um. Pegaram aqueles coitadinhos, aqueles riquinhos ajudando pobre e que se deram mal e queimaram vivos. Queimaram vivo dentro de pneus, queimaram vivo, e é isso que esses estudantes alienados, filhos de papai e que tem grana merecem. Não que eu queira isso, mas eles merecem porque eles estão arriscando acabar com o nosso Brasil".
Em nota, a gestão central da UFPel informou que a declaração do deputado federal é "algo torpe e vil" e que "o sentimento é de tamanha indignação, incredulidade e verdadeira tristeza". (Leia nota completa abaixo)
Também por meio de nota, a reitoria da UFSM, repudiou "todo e qualquer discurso de ódio, de falta de civilidade, que não tolere as diferentes opiniões ideológicas e políticas e que incentive agressões". (Leia nota completa abaixo)
No vídeo, o deputado federal criticou os alunos por atos em protesto ao presidente Jair Bolsonaro (PL) devido a cortes financeiros na área da educação. Nunes negou que tenha dito que os estudantes merecessem queimar vivos.
A publicação é do dia 9 de outubro, mas viralizou nesta semana depois de uma manifestação de um ex-reitor da UFSM, o professor Paulo Afonso Burmann, que usou um trecho do vídeo para criticá-lo.
O ex-reitor da UFSM reagiu em defesa dos estudantes com uma publicação feita no último domingo (16) no seu perfil nas redes sociais:
“Professor Paulo Burmann segue em defesa da educação da ciência, da UFSM e UFPel e dos estudantes, diante de mais um ataque do gabinete do ódio, que quer a destruição da universidade e, com ela, das oportunidades para milhões de jovens brasileiros”, diz o texto que acompanha uma versão editada do vídeo do deputado federal.
Por meio de nota, a União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul (UEE RS) repudiou o que considera mais um "ataque cruel proferido por Bibo Nunes". A entidade se solidarizou com os colegas e reforçou seu compromisso em "derrotar todos os inimigos da educação."
"A educação pública vem sendo atacada pelo governo federal e seus aliados desde que Bolsonaro assumiu a presidência. Cortes orçamentários, desrespeito à autonomia universitária, criminalização do movimento estudantil e mesmo assim nossas universidades não pararam! A maior parte da produção científica do nosso país é desenvolvida na universidade, estamos nos rankings de melhores universidades da América Latina e do Mundo, formamos excelentes profissionais e no período mais recente fomos essenciais no controle da pandemia."
Deputado perdeu eleição
Bibo Nunes, de 65 anos, tentou a reeleição para o cargo de deputado federal no pleito deste ano, mas, com 76.521 votos, não conquistou a vaga, ficando como primeiro suplente.
Ele foi eleito deputado federal em 2018, via quociente partidário, com 91.664 votos. Em quatro anos de legislatura, teve um projeto aprovado, em 2020.
Em 2016, filiado ao PMDB, se candidatou para vereador em Porto Alegre, mas não se elegeu. Antes, em 2014, já havia tentado se eleger como deputado, mas pelo PSD, mas não foi eleito.
Nota da UFPel
O vídeo que contém imagens do deputado Bibo Nunes ofendendo estudantes das Universidades Federal de Santa Maria (UFSM) e de Pelotas (UFPel) não seria digno sequer de comentários, não fosse este produzido por um integrante do parlamento brasileiro.
No vídeo, evidencia-se uma pessoa rancorosa, desequilibrada, desconhecedora do que é uma universidade pública e, sobretudo, desprovida de mínimo respeito com a população de Santa Maria.
Afora a série de despropositadas agressões verbais dirigidas aos estudantes da UFSM e da UFPel, desejar que estudantes morram queimados é algo torpe e vil. Tivesse o parlamentar a mínima sensibilidade, recordaria da trágica passagem que até hoje marca o povo santamariense e a comunidade acadêmica da UFSM.
Se, de um lado, a fala do Sr. deputado é desprovida de qualquer conhecimento da importância das Universidades Federais para a construção de um país cientificamente soberano; de outro, traz um sentimento de verdadeiro sadismo, ao desejar que jovens estudantes “morram queimados”.
O sentimento é de tamanha indignação, incredulidade e verdadeira tristeza que sequer comentários outros fazem-se necessários, especialmente considerando que, por mais que se tragam elementos que demonstrem o relevante papel das Universidades Federais na vida nacional, o destinatário destas ponderações demonstra ser desprovido da vontade de apreendê-los e do mais nobre sentimento de humanidade.
Nota da UFSM
A Universidade Federal de Santa Maria, enquanto instituição pública, plural e democrática, tem em seus valores institucionais o comprometimento com a educação e com o conhecimento pautados em liberdade, democracia, ética, justiça, respeito à identidade e à diversidade, compromisso social, inovação e responsabilidade. Desta forma, repudia todo e qualquer discurso de ódio, de falta de civilidade, que não tolere as diferentes opiniões ideológicas e políticas e que incentive agressões à comunidade acadêmica ou a quem quer que seja.
Nossos estudantes são nosso maior patrimônio e é através deles e do conhecimento gerado nas universidades que transformamos a sociedade. Toda vez que um estudante ou um servidor público da área da educação for atacado e/ou desqualificado, nos ergueremos em defesa da nossa comunidade e da nossa instituição, que é de Estado e não de um governo.
É inegável que estamos fragilizados não só pelos seguidos cortes orçamentários que sofremos ano após ano. Precisamos relembrar que, infelizmente, não é somente neste período eleitoral que estamos sendo atacados. São diferentes tentativas de desqualificar a UFSM em razão de defendermos a educação pública de qualidade e, principalmente, por prezar pela livre expressão e pelo respeito à democracia.
Apesar de todos os ataques, todos os cortes, todas as tentativas de desmobilização e, principalmente deslegitimação, nossa comunidade segue respeitosa e arduamente trabalhando, porque acredita na educação de qualidade, no ensino público e na democracia. E por isso merece respeito.