Publicada em 31/10/2022 às 08h53
Um fenômeno desconhecido que parece explodir a Terra com radiação a cada mil anos ou mais pode ser uma ameaça mais perigosa para o nosso planeta do que as erupções solares.
Um estudo publicado quarta-feira (26) na revista Proceedings of the Royal Society A examinou várias árvores procurando nos anéis de seus troncos picos de carbono 14, um isótopo radioativo de carbono cuja presença aumentada representa picos nos níveis de radiação na Terra.
O resultado da pesquisa é que aconteceram seis “eventos de Miyake” – assim chamados em homenagem ao cientista japonês que os descobriu -, que são enormes explosões de radiação cósmica, nos últimos 10 mil anos, o último deles em 993 EC (Era Comum).
“Existe um tipo de fenômeno astrofísico extremo que não entendemos e que realmente pode ser uma ameaça para nós”, alertou Benjamin Pope, coautor do estudo e astrofísico da Universidade de Queensland, à Australian Broadcasting Corporation
Antes da pesquisa, acreditava-se que os “eventos de Miyake” eram causados por fortes tempestades solares que normalmente ocorriam no pico de 11 anos de atividade das manchas solares no ciclo solar. Os cientistas, no entanto, dizem que descobriram que esses picos de radiação surgiram em todo o ciclo solar, não apenas em seu pico de 11 anos.
“Pelo menos dois, talvez três desses eventos levaram mais de um ano, o que é surpreendente porque isso não vai acontecer se for uma explosão solar”, afirmou Pope à ABC.
Última erupção solar
Importante lembrar que o Evento Carrington, como ficou conhecida a última erupção solar poderosa a atingir nosso planeta, aconteceu em 1859. Na época, danificou severamente a infraestrutura de telecomunicações.
Os eventos de Miyake teriam sido até 100 vezes mais poderosos do que o Carrington. Se hoje um Evento Carrington seria monumentalmente mais devastador por conta da internet e da tecnologia que usamos, imagine um novo evento de Miyake.
“[A força desse evento] não seria apenas a de uma erupção solar, mas de erupções solares recorrentes acontecendo de novo e de novo”, explicou Pope.
Pode acontecer agora?
“O efeito na infraestrutura global seria inimaginável. Com base nos dados disponíveis, há cerca de 1% de chance de ver outro na próxima década. Essas probabilidades são bastante alarmantes e lançam as bases para mais pesquisas”, afirmou Pope em um comunicado à imprensa.
Os anéis dos troncos das árvores foram examinados por um software desenvolvido pelo estudante da Universidade de Queensland, Qingyuan Zhang. “Quando a radiação atinge a atmosfera terrestre, produz carbono-14 radioativo, que filtra ar, oceanos, plantas e animais, e produz um registro anual de radiação em anéis de árvores”, detalhou ele em um comunicado.