Publicada em 02/10/2022 às 14h30
Ao menos 92 pessoas morreram no Irã na repressão das manifestações que começaram há duas semanas, após a morte da jovem Mahsa Amini, detida pela polícia da moral, informou neste domingo a ONG Iran Human Rights (IHR).
Em Teerão, o presidente Ebrahim Raisi acusou novamente os "inimigos" do Irã de "conspirar" para isolar o país, mas afirmou que fracassaram em sua tentativa.
A ONG também registrou 41 pessoas mortas em confrontos na sexta-feira em Zahedan, sudeste do Irã, em uma região de fronteira com Afeganistão e Paquistão, com base em informações de fontes locais, mas não está claro até que ponto estes incidentes estão relacionados com a morte de Amini.
"A comunidade internacional tem o direito de investigar e de impedir que outros crimes sejam cometidos pela República Islâmica do Irã", declarou Mahmud Amiry-Moghaddam, diretor da IHR, que tem sede na Noruega.
Amini, uma curda iraniana de 22 anos, morreu em 16 de setembro, depois de ser detida pela polícia da moral, supostamente por não utilizar o véu da maneira como exige o rígido código de vestimenta das mulheres na República Islâmica.
A morte da jovem provocou a maior onda de protestos no país desde 2019.
Desde então, manifestações de solidariedade às mulheres iranianas - algumas delas queimam os véus em sinal de protesto - foram organizadas ao redor do mundo, em particular no sábado (1), em mais de 150 cidades.
A IHR tenta calcular o número de vítimas, apesar dos cortes de internet e dos bloqueios de aplicativos como WhatsApp, Instagram e outros serviços no Irã.
O país também registra distúrbios na região sudeste, onde cinco membros da Guarda Revolucionária morreram durante confrontos na sexta-feria em Zahedan, capital da província de Sistão-Baluchistão.
Esta província afetada pela pobreza tem sido cenário frequente de confrontos com rebeldes da minoria do Baluchistão, grupos extremistas muçulmanos sunitas e grupos de narcotraficantes.
Um pregador muçulmano sunita, Molavi Abdol Hamid, afirmou que a comunidade estava "irritada" após o suposto estupro de uma adolescente de 15 anos por um comandante da polícia na província, em uma mensagem publicada no site do clérigo na semana passada.
A IHR acusou as forças de segurança iranianas por uma "repressão violenta" de um protesto na sexta-feira em Zahedan, após a divulgação das acusações.
"Os assassinatos de manifestantes no Irã, em particular em Zahedan, constituem um crime contra a humanidade", afirmou Amiry-Moghaddam
O Irã atribui a responsabilidade das manifestações a forças externas que pretendem desestabilizar o país, em particular a seu grande rival Estados Unidos.
Neste domingo, o presidente Raissi afirmou que a "conspiração" dos inimigos fracassou.
"Quando a República Islâmica estava superando os problemas econômicos para tornar-se mais ativa na região e no mundo, os inimigos entraram no jogo com a intenção de isolar o país, mas fracassaram nesta conspiração", afirmou, de acordo com um comunicado da presidência.
A imprensa local informou que cinco integrantes da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã, foram mortos nos confrontos de Zahedan.
E na cidade sagrada xiita de Qom, ao sul de Teerã, um paramilitar "esfaqueado" nos "distúrbios recentes" não resistiu aos ferimentos, segundo a agência oficial Irna.