Publicada em 01/11/2022 às 16h17
Após falar ao telefone, nesta terça-feira (1), com o líder russo Vladimir Putin, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse estar "confiante" sobre o acordo sobre as exportações de grãos ucranianos. Moscou se retirou deste dispositivo e exige garantias de Kiev. Todos os movimentos de carga na rota em questão foram suspensos na quarta-feira (2), informou o Centro de Coordenação Conjunta (JCC) responsável pelo acordo internacional sobre as exportações de grãos da Ucrânia pelo o Mar Negro.
De acordo com "o secretariado das Nações Unidas no centro de coordenação conjunta, as delegações da Ucrânia, Rússia e Turquia concordaram em não planejar qualquer movimento de navios de carga em 2 de novembro sob a Iniciativa de Grãos do Mar Negro", informou o JCC em um comunicado à imprensa.
Três navios de carga de grãos que saíram dos portos ucranianos se juntaram ao corredor humanitário, na manhã desta terça-feira, apesar da retirada temporária da Rússia do acordo.
Esses movimentos de embarcações "foram aprovados pelas delegações ucraniana, turca e das Nações Unidas", especificou o JCC, acrescentando que "a delegação russa havia sido informada".
A Rússia, que anunciou no sábado a "suspensão" de sua participação na Iniciativa de Grãos do Mar Negro alertou, na segunda-feira, para o "perigo" de continuar a navegação ao longo do corredor sem o seu acordo.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse a seu colega turco Recep Tayyip Erdogan que queria "garantias reais" de Kiev sobre o respeito ao acordo sobre as exportações de grãos ucranianos. Durante a conversa por telefone com Erdogan, o líder russo considerou "necessário" obter de Kiev "garantias reais de estrito respeito pelos acordos de Istambul, em particular que o corredor humanitário não será usado para fins militares", afirmou o Kremlin em um comunicado. “Só depois disso poderemos analisar a retomada dos trabalhos”, sublinha o documento.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, também falou sobre o acordo de grãos durante uma conversa por telefone, nesta terça-feira, com o seu colega turco Hulusi Akar, segundo um comunicado do Exército russo.
"Falso pretexto"
A Rússia acusa a Ucrânia de atingir sua frota na baía de Sebastopol, anexada à Crimeia, no sábado, com drones aéreos e submarinos, usando o corredor humanitário criado para a exportação desses cereais ucranianos. De acordo com Moscou, esta operação foi planejada com o apoio de especialistas britânicos.
A Ucrânia, por sua vez, denunciou um "falso pretexto" para a suspensão do acordo de cereais, enquanto Londres negou qualquer participação neste ataque.
O presidente Erdogan, contudo, “disse estar confiante na cooperação de todas as partes para encontrar uma solução”, conforme afirmou a presidência turca, em um comunicado. O chefe de Estado turco garantiu que vai tomar "as iniciativas necessárias com todas as partes interessadas para resolver os problemas relacionados com a implementação do acordo de Istambul sobre os carregamentos de cereais", segundo o texto.
Erdogan, que regularmente oferece sua mediação entre Kiev e Moscou, disse que resolver a questão do acordo de exportação de grãos pode encorajar os dois lados a encontrarem o caminho de volta às negociações de paz.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, o presidente Erdogan também deve conversar com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky "nos próximos dias". “Acreditamos que vamos superar isso”, acrescentou o ministro, sobre as dificuldades ligadas ao acordo de cereais assinado em Istambul em 19 de julho. A Turquia, que foi a mediadora do acordo junto com a ONU, multiplicou seus esforços diplomáticos para salvar o pacto assinado por ambas as partes e que, segundo ele, “beneficia a todos”.
Este acordo, que visa evitar uma grave crise alimentar, especialmente na África, envolvendo a Ucrânia e a Rússia, expira em 19 de novembro. O mecanismo já permitiu a exportação de quase 10 milhões de toneladas de grãos ucranianos, que estavam retidos em portos ucranianos, desde o início do conflito.