Publicada em 11/11/2022 às 14h51
A Anistia Internacional pediu ao presidente da Fifa, Gianni Infantino, a atribuição de uma compensação financeira aos migrantes que trabalharam nas obras dos estádios da Copa do Mundo do Catar. A solicitação foi feita em um texto publicado nesta sexta-feira (11), no jornal francês Le Monde.
A nove dias do início da Copa, a organização reiterou o pedido que havia sido feito em maio, corroborado por outras 24 ONGS, incluindo a Human Rights Watch.
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A "indenização" poderia remediar, em parte, os abusos sofridos pelos trabalhadores estrangeiros, originários, na maior parte das vezes, do sul da Ásia, do sudeste e da África. Muito deles, afirmam as ONGS, foram explorados e maltratados.
Os trabalhadores se queixaram das condições precárias de trabalho, horas extras que nunca foram pagas e tempo insuficiente de repouso. Alguns patrocinadores da Copa, como a Adidas, a Coca Cola e o McDonald's, apoiaram a denúncia. A seleção australiana chegou a mostrar, em um vídeo, cenas de maus tratos dos pedreiros que construíram ou reformaram estádios onde acontecerá o mundial.
"Mas, em meio a tantas críticas, a voz mais relevante de todas se manteve em silêncio: a de Gianni Infantino", escreveu a diretora-geral da Anistia, Agnès Callarmard, no texto publicado nesta sexta-feira. "Apesar das seguradoras públicas e privadas da Fifa terem afirmado que analisariam a proposta, Gianni Infantino sempre se esquivou da questão. Ele nunca respondeu nossa carta conjunta", declarou.
Recentemente, a presidente da Fifa suscitou revolta das associações de direitos humanos ao incitar os 32 países que participam do torneio a se "concentrar no futebol", em uma carta divulgada pelo canal Sky News, no dia 4 de novembro. Ele também pediu às equipes que parassem de dar "lições de moral."
Violação de direitos humanos
Para a diretora da Anistia, a declaração reforça uma tentativa "grosseira e sem equívoco de inocentar a Fifa de sua responsabilidade em atos de desrespeito aos direitos humanos e aos trabalhadores." Ela lembrou, entretanto, que o compromisso da Fifa para 'remediar' essas violações faz parte de sua própria política, e que Federação estava a par dos riscos para os trabalhadores no Catar quando a Copa do Mundo foi atribuída ao país.
O Catar rejeitou os apelos por uma compensação financeira. O ministro do Trabalho catari, Ali bin Samikh Al Marri afirmou que os países do Golfo implantaram sua própria política de indenização e já tinham distribuído centenas de milhões de dólares para compensar salários.
"Pedimos à Fifa que se comprometa a indenizar as vítimas e financiar programas de prevenção. Entre eles, um centro onde os trabalhadores possam se informar sobre seus direitos e obter assistência e conselhos jurídicos", diz Agnès Callarmard.
Situação é chocante
Mustafa Quadri, da ONG Equidem, disse à RFI que a situação é "chocante". "O que descobrimos é realmente chocante. Não só os trabalhadores foram submetidos à práticas que podem ser comparadas ao trabalho forçado, como também algumas empresas, incluindo uma que é propriedade direta da família real do Catar, fizeram de tudo para esconder seus métodos dos inspetores do trabalho."
Ele também elogiou "os esforços de algumas pessoas no Catar e de especialistas internacionais que realmente fizeram tudo para tentar melhorar as condições de trabalho de mais de 2 milhões de trabalhadores. Há boas pessoas no Catar que estão fazendo o possível para mudar as coisas", disse. "Mas nossa pesquisa mostra que, apesar desses esforços, um sistema de exploração ainda está em vigor na Copa do Mundo".
Nesta sexta-feira, a Fifa reagiu dizendo que "medidas para garantir a saúde e o bem estar dos operários que atuam nas obras da Copa do Mundo são uma prioridade".