Publicada em 04/11/2022 às 14h52
Grande vencedor das eleições legislativas, Benjamin Netanyahu lançou negociações com seus aliados religiosos e de extrema direita pra formar um governo que pode ser o mais à direita da história de Israel, gerando preocupação internacional e local.
"Para onde vão?" foi a manchete desta sexta-feira (4) do Yediot Aharonot, o jornal mais vendido em Israel, com fotos de Netanyahu, imputado por corrupção, e a estrela em ascensão da extrema direita, Itamar Ben Gvir.
Com 64 do total de 120 cadeiras no Knesset (Parlamento), o bloco de direita de Netanyahu – que deixou o poder em junho de 2021, após 12 anos contínuos de liderança – ganhou as eleições de terça-feira.
Seu partido, o Likud, obteve 32 assentos, seus aliados religiosos, 18, e a aliança "Sionismo religioso", 14, um recorde para a extrema direita.
"Este vai ser um governo sem precedentes" prevê no Yediot Aharonot a analista política Sima Kadmon. "A maioria das pastas importantes estará nas mãos de fanáticos (...) Todo mundo sabe que, se somente uma fração do que foi prometido for cumprido, o país será diferente".
Já o lado "anti-Netanyahu" liderado pelo primeiro-ministro em final de mandato, Yair Lapid (centrista), obteve 51 cadeiras.
- Violência -
O anúncio na noite de ontem dos resultados das legislativas – as quintas em três anos e meio – foi dado em um contexto de aumento da violência entre palestinos e israelenses.
A Força Aérea israelense anunciou que lançou, na manhã desta sexta-feira, bombardeios contra "locais militares" na Faixa de Gaza em resposta ao lançamento de foguetes deste território palestino contra seu país. Na quinta-feira, quatro palestinos morreram nas mãos das forças israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém, entre eles, o autor de um ataque e um combatente.
Segundo a lei eleitoral israelense, agora cabe ao presidente de Israel, Isaac Herzog, que tem um papel principalmente simbólico, encarregar o líder político com mais possibilidades de formar um governo – e, certamente, será Netanyahu. Abre-se, então, um prazo de 42 dias para formar um Executivo.
De acordo com a imprensa israelense, porém, o lado de Netanyahu não aguardou o sinal verde oficial, e o ex-premiê já encarregou Yariv Levin, um de seus aliados mais próximos, de iniciar negociações que se anunciem complexas, sobretudo, com a legenda Sionismo Religioso.
Seu líder, Bezalel Smotrich, já indicou que quer a pasta da Defesa, e seu número dois, Itamar Ben Gvir, a de Segurança Pública, dois cargos-chave no governo em meio à tensão entre israelenses e palestinos.
Entre os ultraortodoxos, o líder do partido sefardita Shas, Arieh Dery, fortalecido por seus 11 assentos, aspira ao Ministério das Finanças, ou do Interior. Dery foi considerado culpado de fraude fiscal em 2021 e, antes disso, esteve preso por corrupção.
- "Quem manda!" -
Netanyahu está consciente de que impulsionar tais personalidades podem "prejudicar" suas relações internacionais, estima Shlomo Fischer, do Jewish People Policy Institute, em Jerusalém.
Netanyahu "é muito cauteloso, não quer perder sua legitimidade internacional (...) Ele pode ampliar sua coalizão para minimizar a influência" desses aliados.
Enquanto Ben Gvir defende o uso da força contra os palestinos e "mostrar quem manda", o governo americano disse, antes do anúncio da vitória de Netanyahu, esperar que "todos os altos cargos israelenses continuem compartilhando os valores de uma sociedade aberta, democrática e tolerante em relação à sociedade civil, em especial, às minorias".
Quando foi primeiro-ministro antes de 2021, Netanyahu se distanciou de aliados históricos de Israel no Partido Democrata e trabalhou em estreita colaboração com o ex-presidente republicano Donald Trump.