Publicada em 19/11/2022 às 09h21
O governo da Colômbia e a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) retomarão as negociações de paz a partir de segunda-feira em Caracas, após uma suspensão de quase quatro anos, anunciaram as partes em um comunicado.
"O reinício da Mesa de Diálogos acontecerá na próxima segunda-feira, 21 de novembro, à tarde na cidade de Caracas", afirma a mensagem assinada pelo alto comissário de paz da Colômbia, Danilo Rueda, e pelo integrante da delegação de paz do ELN Pablo Beltrán.
As negociações com a última guerrilha reconhecida do país foram interrompidas pelo presidente conservador Iván Duque (2018-2022) depois que os rebeldes atacaram, com um carro-bomba, um centro de formação da polícia em janeiro de 2019. O atentado deixou 22 vítimas, além do autor do ataque.
Com chegada ao poder de um inédito governo de esquerda, liderado pelo ex-guerrilheiro Gustavo Petro, em agosto, as partes voltaram a estabelecer uma aproximação e já haviam antecipado que a mesa seria retomada no início deste mês, embora sem especificar em que local.
O governo e os insurgentes não divulgaram a lista completa dos negociadores, mas Petro já designou para sua delegação o líder pecuarista e opositor de seu governo José Félix Lafaurie.
"Somos conscientes do profundo desejo do povo colombiano (...) de avançar em um processo de paz e de construção plena da democracia", acrescentaram Beltrán e Rueda no comunicado.
Colômbia e Venezuela retomaram as relações diplomáticas recentemente, após uma ruptura provocada pelo reconhecimento de Duque ao opositor Juan Guaidó como presidente venezuelano em 2019, no lugar do presidente Nicolás Maduro.
Noruega e Cuba também atuam como países mediadores do processo.
- Nova tentativa -
Fundado em 1964 por sindicalistas e estudantes simpatizantes de Ernesto "Che" Guevara e da revolução cubana, o ELN tem uma forte presença na fronteira de 2.200 quilômetros entre os dois países.
Na quarta-feira, a guerrilha libertou dois soldados que havia sequestrado perto da Venezuela no início do mês como "gesto humanitário".
As partes não estabeleceram um cessar-fogo, mas concordaram em outubro em "retomar o conjunto dos acordos e avanços alcançados desde a assinatura da agenda" de 30 de março de 2016.
Os últimos cinco presidentes colombianos tiveram negociações frustradas com o ELN, que aumentou sua força de 1.800 para 2.500 membros após a suspensão dos diálogos com Duque, segundo estimativas oficiais.
A infraestrutura energética e as empresas multinacionais presentes na Colômbia são os principais "alvos militares" do grupo. O ELN também trava uma disputa violenta por território com dissidentes do pacto de paz que desarmou a guerrilha das FARC em 2017 e grupos do narcotráfico de origem paramilitar.
Antonio García, principal comandante do ELN, afirmou em outubro que o caminho para buscar a paz passa por "atacar as causas do conflito armado, que são a desigualdade, a falta de democracia, a iniquidade".
A negociação é parte de uma política de "paz total" com a qual o novo governo aspira encerrar o conflito de quase seis décadas na Colômbia.