Publicada em 25/11/2022 às 10h56
Os ministros do Interior da União Europeia (UE) terão, nesta sexta-feira (25), uma reunião extraordinária em Bruxelas, em meio a uma crise entre França e Itália que obrigou o bloco a voltar a discutir a questão migratória.
O número de migrantes que chegaram à UE ainda não atingiu os recordes de 2015 e 2016, mas as capitais europeias não escondem a preocupação com as novas chegadas – seja por via marítima, a partir do Norte de África, seja por via terrestre, pelos Bálcãs.
A UE passou anos negociando uma política para dividir a responsabilidade pelos migrantes e solicitantes de asilo, mas a eclosão de uma crise entre Itália e França fez a questão voltar a ser prioridade.
No início de novembro, o novo governo italiano, liderado por Giorgia Meloni, de extrema direita, não autorizou que um navio de bandeira norueguesa com 234 migrantes resgatados no Mediterrâneo a bordo atracasse em um de seus portos.
A França reagiu com indignação ao gesto, contrário às normas da UE, e concordou em receber a embarcação. Suspendeu, no entanto, um acordo anterior para acolher 3.500 solicitantes de asilo instalados em território italiano.
Diante da situação, a França convocou a atual reunião extraordinária.
Os países mediterrâneos mais próximos da costa norte-africana, como Itália e Grécia, denunciam a falta de compromisso dos demais membros do bloco no acolhimento dos imigrantes.
Alguns membros da UE concordaram em receber cerca de 8.000 requerentes de asilo (França e Alemanha aceitaram 3.500 cada, por exemplo), mas apenas 117 realocações ocorreram até agora.
- 'Nada novo' -
Na segunda-feira (21), a Comissão Europeia apresentou mais um plano de ação para regular as chegadas pela rota do Mediterrâneo central. Um diplomata europeu destacou, contudo, que o plano "não contém nada de novo, portanto, não resolverá o problema".
Stephanie Pope, especialista em migração da agência humanitária Oxfam, chamou o plano da Comissão de "reorganização de velhas ideias que não funcionam (...) É uma perda de tempo".
O plano prevê uma coordenação mais estreita entre as autoridades nacionais da UE e as ONGs humanitárias no resgate de migrantes.
Frequentemente, Itália, Grécia, Malta e Chipre acusam as organizações humanitárias de operarem sem respeito pelas autoridades nacionais e de estimularem a imigração.
Outros Estados-membros, como a Alemanha, argumentam que não pode haver limites para as operações humanitárias: todas as embarcações são obrigadas pela lei marítima a salvar pessoas em perigo no mar.
Antes da reunião de ministros, o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, alertou que, "com quase 2.000 pessoas mortas, ou desaparecidas, até agora este ano, uma ação urgente é necessária".
E, enquanto França e Itália discutem os casos dramáticos no Mediterrâneo Central, outras capitais da UE estão mais preocupadas com as rotas terrestres pelos Bálcãs.
Estima-se que quase 130.000 imigrantes tenham chegado ao bloco desde o início do ano, de acordo com a Frontex, a força de fronteiras da UE.
Ontem (24), ministros da República Tcheca, Áustria, Eslováquia e Hungria destacaram que essa rota representa mais da metade das "chegadas ilegais" ao bloco.