Publicada em 03/11/2022 às 09h54
O ponta-esquerda Caio é um jogador com muita história para contar. Natural de Porto Velho, o mundo da bola o levou até o KF Delvina, da Albânia. Mas não sem antes dispender dele grande força de vontade.
De família futebolista, John Caio Camargo Silva, começou no futebol aos três anos, jogou na várzea, passou pelo Genus até o profissional. No futebol amador, chegou a ganhar de R$ 200 a 300 por campeonato e teve até que custear a própria passagem para ir ao futebol europeu.
Caio dividiu a vida dos gramados com o trabalho fora de campo. O atacante não gostava de depender dos outros. Então, já cortou grama em condomínio, já cuidou de balsa de garimpo e até trabalhou como lavador de tapete.
Sem desistir, acordava sempre às 5h30 da manhã todos os dias, e ia pro campo de terra perto da casa com sua mulher, que o ajudava a treinar. Fez isso durante quatro anos, desde jovem. Com a oportunidade na cabeça sem saber quando aconteceria, ele manteve a preparação.
Depois de fazer atividade por conta própria, Caio conta que voltava para casa, descansava, se arrumava e tinha que ir andando para o treino no Genus. Ele andava cinco quilômetros e saia entre 11h30 e 12h de casa para chegar às 15h para o treino.
- Não deixei me abater e fui atrás de meu sonho até conseguir. Tinham a visão de que sair daí para jogar em outro lugar era muito difícil, encaram como uma área periférica do futebol em que o máximo que jogava era estadual. Nunca havia saído da minha região pra jogar bola porque tinha medo de dar errado.
A virada ocorreu em 2020. Caio postou melhores momentos em suas redes sociais. Algo que chamou atenção do KF Liria, de Kossovo, através de um empresário. Só que para ir até lá, necessitou tirar dinheiro do próprio bolso. O que poderia ser uma incerteza deu certo e ele assinou contrato de um ano com a equipe kossovar. Após os testes, assinou contrato de um ano com o clube e seu valor de mercado se tornou o mais alto do time.
E foi uma batalha para chegar até o destino final. Caio fez escala na Alemanha e não queriam liberar ele no aeroporto. Como ele não sabia falar nem inglês, o relacionamento estava difícil e ele teve que apresentar a carta-convite que o clube lhe deu e os alemães chegaram até a ligar para o clube para confirmar.
- Quando eu pisei em Kosovo, nem eu acreditei que tinha saído da minha cidade pra jogar em outro canto, porque ninguém sai. Arrisquei tudo o que eu tinha para ir. Foi uma surpresa ter que fazer testes. Achei que já estava tudo certo. Como não sabia que era teste, joguei tranquilo e despreocupado, e acho que consegui me soltar mais, porque gostaram de mim. Se soubesse que era teste, teria ficado nervoso - disse.
Por lá, Caio se destacou. Foram oito partidas como titular e seis assistências. O rondoniense conseguiu se estabilizar no país e, nesta temporada, teve a oportunidade de uma transferência para a Albânia, também nos Balcãs. Em Kosovo, Caio passou por algumas dificuldades. Mas aprendeu a comunicar as coisas básicas e se virava em campo com os companheiros.
- Eu achava que era só vir aqui e jogar bola, mas não é. Você tem que lidar com os caras querendo te derrubar, você passa e sabe que eles estão falando mal de você, muita coisa. Eles deram graças a Deus quando me machuquei. Não é só futebol, tem o extracampo. Tinha dia que eu ia para o treino já estressado, porque tinha que lidar com um grupinho de uns quatro caras que queriam me derrubar. Tinha uns que não me aceitavam, tinham preconceito e não aceitavam que eu seja um cara do time, que pudesse fazer a diferença - relata.
Uma das curiosidades logo que cheguei aqui foi que, fui pro time e aí no vestiário o presidente entrou para falar com os jogadores,mas eu não sabia, recém chegado, não tinha noção ainda e eu vi os jogadores beijando as mãos do presidente e eu fiquei pensando: o que que é isso? Aí quando chegou minha vez eles pediram para eu beijar e eu falei, não, vou beijar mão de homem não. Essa foi uma das curiosidades que eu vive aqui. É isso! Passamos por essas coisas aí nós seguimos.
— Caio, jogador do KF Delvina
O atleta também teve que se adaptar ao jogo, muito intenso, e tinha a barreira linguística com o treinador para entender o que ele falava.
- O diferencial que eu tive aqui foi velocidade e eu gosto muito do um contra um. Aqui é um futebol muito truncado, até passei, logo que cheguei passei uma dificuldade na adaptação, porque é muito diferente do estilo de jogo do Brasil. Um futebol mais pegado, de menos espaço de jogo. Menos técnica também. E o meu diferencial foi isso, que eu gosto de ir pra cima, o mano a mano, e aqui difícil você ver jogador que faz isso. Por causas dessas coisas me destaquei e trabalhei bastante para me adaptar e Graças a Deus tudo vem dando certo e Deus me abençoando - descreve.
Em julho de 2022, foi vendido para o Albpetrol Patos, time albanês da cidade de Patos, onde se apresentou no dia 27. Mas obteve uma melhor proposta para retornar ao futebol local e, em agosto de 2022, se transferiu para o KF Delvina, também da segunda divisão albanesa.
Longe da família desde quando foi para o Kosovo, o jogador usa a tecnologia para encurtar a distância. O jeito é fazer chamadas de vídeo muitas vezes por dia. E, planeja levar a mulher para morar com ele ainda neste ano.
- Sem minha mulher, eu não teria ido a lugar nenhum, ainda estaria em Porto Velho batendo peladas e jogando na várzea. De Rondônia sinto falta de Porto Velho, minha cidade, do meu bairro onde eu nasci e fui criado, Areal da Floresta. Sinto saudades dos meus amigos que estão lá, das peladas que nós jogávamos e brincávamos. Sinto saudades também da comida, do peixão, tambaqui. Mais é isso aí - conta.
Em Kosovo, Caio morava no mesmo prédio que outro brasileiro da equipe, com quem se relacionava mais no dia a dia. O atacante é muito centrado no futebol, então atualmente quando não está jogando ele gosta de ir à Igreja. Sua inspiração no futebol é o Neymar e como bom brasileiro espera muito do futuro.
- O que eu penso para o futuro é jogar umas competições europeias. Ano passado eu tive chances, se nós tivéssemos sido campeões da Copa, nós iríamos jogar a Europa League mais infelizmente não aconteceu. Nem sempre é conforme a gente quer e Deus sabe de todas as coisas e esse é o meu objetivo da minha carreira, chegar em lugares que eu nem imagino. Que é jogar essas competições europeias. E o objetivo da equipe aqui é. A gente tem um planejamento de subir para a primeira divisão. Estamos trabalhando muito e focado e nós almejamos isso e vamos em busca - finaliza.
Clubes
Genus - base (2011-2019)
Genus (2019-2021)
KF Liria (KOS) (2021-2022)
KF Albpetrol Patos (ALB) (2022)
KF Delvina (ALB) (2022-)
Ficha Técnica
John Caio Camargo Silva
08/09/1997 - 24 anos
Porto Velho (RO)
Peso: 68kg
Altura: 1,81m