Publicada em 01/11/2022 às 16h31
O movimento de protesto no Irã se mantém, apesar do aumento da repressão, com pessoas detidas que foram levadas à Justiça e podem enfrentar a pena de morte.
Nas últimas seis semanas, o Irã se viu tomado por grandes manifestações, após a morte em 16 de setembro da jovem curdo-iraquiana Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial. Ela foi detida em Teerã pela polícia da moral, acusada de descumprir o rígido código de vestimenta do país.
As autoridades advertiram os manifestantes que é hora de sair das ruas, mas os protestos continuam em áreas residenciais, grandes avenidas e universidades do país.
O regime tem um novo desafio, já que as cerimônias que marcam, segundo a tradição iraniana, os 40 dias depois de um falecimento e foram organizadas para as dezenas de vítimas da repressão, podem se tornar um foco de protestos.
Na segunda-feira (31), os moradores do distrito de Ekbatan, em Teerã, gritaram palavras de ordem como "Morte ao ditador", e as forças de segurança usaram granadas de efeito moral para dispersá-los, de acordo com imagens do coletivo 1500tasvir e de outros meios de comunicação.
O grupo de direitos humanos Hengaw, com sede na Noruega, disse que o funeral em Sanandaj (noroeste) de uma adolescente de 16 anos morta durante a repressão, Sarina Saedi, transformou-se em um protesto.
- Número de vítimas aumenta -
Os familiares de Amini garantem que ela morreu por um golpe na cabeça enquanto estava detida. As autoridades negam que isso tenham ocorrido e disseram que iniciaram uma investigação sobre o episódio.
Não é a primeira vez que ocorrem manifestações contra o poder nestas últimas duas décadas, mas o movimento atual vem quebrando tabus. Imagens nas redes sociais mostram murais do líder revolucionário aiatolá Ali Khamenei e seu antecessor Ruhollah Khomeini cobertos de tinta vermelha na cidade sagrada de Qom.
A ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, afirma que 160 pessoas morreram na repressão a esses atos, e outras 93, em diferentes protestos em Zahedan (sudeste).
Milhares de pessoas foram presas na repressão, dizem ativistas dos direitos humanos, enquanto o Poder Judiciário iraniano diz que mil já foram acusados por sua conexão com os "distúrbios".
O julgamento de cinco homens que podem enfrentar a pena capital pelos protestos começou em Teerã no sábado. Na primeira audiência, Mohammad Ghobadlou foi condenado à morte, de acordo com um vídeo gravado por sua mãe e postado pelo Abdorrahman Boroumand Center, com sede em Washington. A Justiça não confirmou a informação.
Pelo menos 46 jornalistas foram detidos, diz o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York. A jornalista Marzieh Amiri, de Teerã, foi a mais recente profissional a ser detida, disse sua irmã Samira, no Instagram.
Hossein Ronaghi, defensor da liberdade de expressão e colaborador do americano "The Wall Street Journal", preso logo após o início dos protestos, está em "greve de fome e doente", relatou seu irmão Hassan no Twitter.
As potências mundiais tentam pressionar o Irã. Na segunda-feira, o Canadá anunciou novas sanções contra a polícia iraniana e contra funcionários judiciais. A União Europeia também está considerando adotar novas sanções, disse o chanceler alemão, Olaf Scholz, no mesmo dia.
Também ontem, o Ministério iraniano das Relações Exteriores anunciou sanções contra indivíduos e entidades dos Estados Unidos, incluindo a agência de Inteligência CIA, por incitar "violência e distúrbios" no Irã.