Publicada em 15/12/2022 às 09h48
O companheiro da eurodeputada Eva Kaili, Francesco Giorgi, confirmou ter envolvimento no suposto esquema de corrupção e ingerência a serviço do Catar e do Marrocos. A informação é divulgada nesta quinta-feira (15) por dois jornais que tiveram acesso aos documentos da justiça belga.
Dois diários - o belga Le Soir e o italiano La Repubblica - revelam declarações do assessor parlamentar Francesco Giorgi à polícia e ao juiz Michel Claise, em Bruxelas. O companheiro da eurodeputada grega Eva Kaili, presa por envolvimento no suposto escândalo de corrupção Catargate, confirmou ter um papel na "organização".
Giorgi está ligado ao ex-deputado europeu socialista Pier Antonio Panzeri, em cuja casa foram encontrados € 600 mil. Outros assessores italianos tiveram seus escritórios revistados, de acordo com a enviada especial da RFI a Estrasburgo, Juliette Gheerbrant.
Segundo documentos consultados pelos jornais Le Soir e La Repubblica, Giorgi afirmou que seu papel na "organização" era de gerenciar o dinheiro vivo. Ele também apontou duas outras pessoas que teriam sido beneficiadas através de Panzeri: os eurodeputados italiano Andrea Cozzolino e o belga Marc Tarabella - cuja residência foi revistada no último sábado (10), na presença da presidente do Parlamento europeu, Roberta Metsola.
O mandado de prisão de Giorgi foi confirmado na quarta-feira (14) por Bruxelas. Já Kaili, destituída de seu cargo de vice-presidente no Parlamento Europeu na terça-feira (13), e também excluída do partido grego Pasok, segue detida desde a última sexta-feira (9). Ela foi indiciada e será interrogada na próxima segunda-feira (22). Seus advogados garantem que ela é inocente.
Defesa do Catar no Parlamento europeu
O caso teve início após uma investigação do Ministério Público belga que descobriu grandes quantias de dinheiro vivo que teriam sido desembolsados para supostamente defender os interesses políticos e econômicos do Catar no Parlamento Europeu. Além dos € 600 mil encontrados na casa de Panzeri, operações policiais apreenderam € 150 mil na residência de Kaili e € 750 mil num quarto de hotel alugado pelo pai da eurodeputada.
Já o Marrocos está envolvido no suposto esquema através de seu serviço de inteligência, a Direção Geral de Estudos e de Documentação (DGED). Segundo os documentos que o Le Soir e o La Repubblica puderam consultar, Panzeri, Cozzolino e Giorgi estiveram em contato com a organização e com Abderrahim Atmoun, embaixador de Marrocos na Polônia. Além de Atmoun, dois agentes do serviço de inteligência marroquino são mencionados nesses documentos, mas ainda não se pronunciaram sobre as revelações.
Ataque à democracia europeia
O escândalo tem forte repercussão na Europa. A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, afirmou que o caso se trata de um "ataque" à democracia europeia.
O suposto esquema também escandalizou a opinião pública na Grécia, país assolado por casos de corrupção. Muitas personalidades políticas gregas expressaram seu constrangimento com o suposto envolvimento de Kaili na polêmica.
A Autoridade Grega de Combate à Lavagem de Dinheiro anunciou ter congelado os ativos financeiros de Kaili e de seus familiares. A imprensa grega também destacou as relações entre a eurodeputada e o célebreo magnata greco-russo Ivan Savvidis, dono, entre outros, do clube de futebol Paok, de Tessalônica, e ex-deputado da Duma, Câmara baixa russa.
Ex-apresentadora de TV, Kaili ocupou uma cadeira no Parlamento grego entre 2007 e 2012. Ela foi eleita ao Parlamento Europeu em 2014 do qual era vice-presidente há 11 meses.