Publicada em 09/12/2022 às 10h10
Uma força tarefa está trabalhando durante toda esta semana na readequação do projeto de revitalização do rio Igarapé Branco, conhecido como rio Araras, em Cerejeiras. Os trabalhos estão sendo realizados na Câmara Municipal.
O rio Araras passa por cerca de 140 propriedades rurais, especialmente sítios e chácaras, da nascente ao ponto de captação da Companhia de Água e Esgoto de Rondônia (Caerd) em Cerejeiras. Essas pequenas propriedades são, na maioria, destinadas à pecuária de corte e de leite.
Como as áreas foram abertas no final da década de 1970 para o início da década seguinte, época em que quase não havia legislação ambiental e a consciência ecológica era quase inexistente, num tempo em que o desmatamento era tido como uma condição para ter a posse da terra, os proprietários desmataram as matas ciliares no leito do rio. Inclusive, a própria nascente do igarapé foi um bebedouro de gado por décadas.
E essa realidade que o projeto tenta mudar.
O projeto de revitalização do rio foi elaborado em 2021, época em que o governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (União Brasil), destinou uma verba para a iniciativa.
Antes disso, em 2020, a Promotoria de Justiça de Cerejeiras instaurou um inquérito para apurar a situação do rio. o promotor Victor Ramalho Monfredinho solicitou ao Núcleo de Análises Técnicas do próprio Ministério Público o estudo da nascente do Araras. Técnicos vieram ao município e fizeram um levantamento de todo o leito do rio e emitiu um parecer para embasar o inquérito.
Embora a ação não tenha desembocado em uma Ação Civil Pública ou em algo do gênero (pelo menos por enquanto), a iniciativa do promotor alertou autoridades públicas para a questão, no que resulta agora na elaboração deste importante projeto – que atualmente está sendo reelaborado.
O engenheiro florestal Vinicius de Almeida dos Anjos, que trabalha no escritório da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sedam) em Cerejeiras, explica a razão da necessidade de readequação do projeto de revitalização do rio Igarapé Branco. “Nas duas vezes que saiu a licitação, houve deserção, ou seja, nenhuma empresa se interessou. O motivo é que os preços estão defasados. Agora estamos readequando o projeto para fazer uma nova licitação”, explica o engenheiro.
A equipe da força tarefa é composta de geógrafos, geólogos e engenheiros florestais, do próprio município e também de Rolim de Moura e de Porto Velho.
A equipe multidisciplinar, composta de técnicos da Sedam, está reavaliando cada ponto do projeto de revitalização do rio Araras.
Na quarta-feira, 07, pela manhã, a prefeita de Cerejeiras, Lisete Marth (União Brasil), participou das discussões com integrantes da força tarefa. À tarde do mesmo dia, a prefeita acompanhou os membros da equipe ao imóvel do antigo CTG, que pertence ao município e onde será montado o viveiro para o projeto.
A obra de revitalização do rio Igarapé Branco tem apoio do governo estadual, que destinou R$ 2,4 milhões para a obra. O município deverá acrescentar uma contrapartida de 10% sobre esse valor.
O projeto inclui revitalizar o rio através do plantio de árvores em todo o leito do córrego, tanto na nascente quanto nas chamadas matas ciliares.
Ao todo, serão revitalizados mais de 14 quilômetros de extensão, desde a fonte do rio em Colorado do Oeste até o ponto de captação de água pela Caerd para consumo humano em Cerejeiras.
Como o Igarapé Branco nasce numa área arenosa, segundo explicam os técnicos da força tarefa, o assoreamento do curso d’água do rio é facilitado pela falta de vegetação, destruída pelo desmatamento em muitos pontos do leito do igarapé.
Para reflorestar a várzea do rio, a prefeitura construirá um viveiro que produzirá cem mil mudas de espécies nativas por ano.
O município planeja buscar parcerias com instituições de ensino, como a Universidade Federal de Rondônia (Unir) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro), para executar o projeto, já que terá várias etapas e será de longa duração.
Não há uma estimativa de quando o projeto começará a ser de fato implantado, uma vez que, segundo os técnicos, o processo de licitação pode levar um tempo que não é possível para ser previsto.
Esta iniciativa tem tudo para ser o maior projeto ambiental do Cone Sul e talvez até de Rondônia. Pelo menos no site do governo, a iniciativa em Cerejeiras é apontada como o maior investimento financeiro num projeto ambiental dos últimos quatro anos.
Quando for concluído, o rio terá um curso de floresta em todo o leito, produzindo mais água para o ser humano e gerando um ambiente propício para a volta da biodiversidade. Vale lembrar também que o rio em questão é um dos afluentes do majestoso Guaporé, o maior curso d’água do Cone Sul de Rondônia.
O rio Igarapé Branco é a fonte da água tratada distribuída pela Caerd para mais de 40% das residências da área urbana de Cerejeiras. Em 2020, houve uma crise hídrica sem precedentes por conta da longa estiagem, que esvaziou a vazante do rio, deixando milhares de pessoas sem água por semanas a fio.
Pela questão ambiental e para manter a água nas residências dos moradores cerejeirenses, este projeto se tornou, de fato, uma questão crucial – e merecem aplausos todos aqueles que contribuíram ou estão contribuindo para que essa iniciativa saia do papel.