Publicada em 21/12/2022 às 15h42
França e Alemanha condenaram alegada cooperação de Kigali com grupo rebelde na República Democrática do Congo. Ruanda nega e acusa comunidade internacional de "falta de vontade" para "confrontar as causas do conflito".
O Ruanda rejeitou esta quarta-feira (21.12) as acusações feitas pela França e pela Alemanha, que na terça-feira condenaram a alegada cooperação de Kigali com o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) na vizinha República Democrática do Congo (RDC).
"Culpar o Ruanda [pela instabilidade] reflete a falta de vontade da comunidade internacional de confrontar as causas profundas do conflito no leste da RDC e exigir uma verdadeira responsabilidade dos atores estatais e não estatais que são responsáveis desse fracasso", disse o Governo do Ruanda num comunicado.
Para Kigali, "acusar o Ruanda de apoiar o grupo armado da RDC M23 é incorreto e desvia a atenção da verdadeira causa do conflito em curso no leste da RDC e do seu impacto na segurança dos países vizinhos, incluindo o Ruanda".
As autoridades ruandesas lamentaram que "não tenha havido responsabilização" do Governo da RDC por "não enfrentar" a mais de uma centena de grupos armados que lutam nas províncias ocidentais do RDC ou por ter divulgado mensagens de ódio e incitação à violência contra a comunidade tutsi, conforme refletido em alguns relatórios das Nações Unidas.
No seu comunicado, o Governo ruandês destaca o fracasso da missão de paz das Nações Unidas na RDC (MONUSCO), que não conseguiu acabar com a violência apesar de estar no país há mais de 23 anos, e pede à comunidade internacional que colabore com a repatriação de ex-combatentes do M23 que, depois de deporem as armas, "definham" em campos de refugiados do Ruanda.
O Ruanda respondeu assim às mensagens da França e da Alemanha, que na terça-feira se juntaram ao Governo da RDC para acusar publicamente Kigali de apoiar as intensas batalhas do M23 contra as posições do Exército da RDC.
Desde março passado, quando os rebeldes reiniciaram as hostilidades após anos de calma, o M23 assumiu o controlo de inúmeras áreas no leste da RDC e os combates forçaram mais de 450.000 civis a fugir das suas casas, segundo os mais recentes relatórios das Nações Unidas.
Em agosto passado um relatório de um especialista da ONU apontou para a cooperação do Ruanda com os rebeldes, mas Kigali sempre negou a alegação. Pelo contrário, Kigali, bem como o M23, acusam o Exército da RDC de se aliar aos rebeldes das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados na RDCongo que tentam recuperar o poder político no seu país de origem. A ONU também confirmou esta colaboração entre a RDC e a FDLR.
O leste da RDC está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército há mais de duas décadas, apesar da presença da MONUSCO.