Publicada em 04/01/2023 às 14h47
Uma centena de parlamentares franceses de vários partidos decidiram colocar sob sua proteção jovens iranianos condenados à morte no Irã, por terem participado da onda de manifestações contra o governo autoritário do país. Para intimidar a população que luta, desde setembro, por uma abertura democrática e mais liberdades, principalmente para as mulheres, dois manifestantes foram executados em dezembro.
Um grupo de 100 legisladores franceses, incluindo senadores, deputados e eurodeputados, decidiram apadrinhar manifestantes iranianos ameaçados de execução por terem protestado contra o rígido regime dos aiatolás, que controla o país desde a Revolução Islâmica de 1979. Pelo menos 100 iranianos detidos recentemente enfrentam acusações que poderiam levar à pena de morte, estimava, no final de dezembro, a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo.
O Irã é palco de múltiplos protestos desencadeados pela morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem curda-iraniana de 22 anos. Ela morreu em circunstâncias suspeitas – vítima de espancamento, segundo familiares –, depois de ser detida pela polícia da moralidade por andar na rua com um véu mal ajustado na cabeça, uma das exigências do rígido código vestimentar imposto a adolescentes e mulheres no Irã.
A morte de Mahsa deflagrou uma onda de manifestações inesperada pelas autoridades religiosas do país. O governo reagiu com uma escalada de repressão, que os militantes dizem ter como objetivo espalhar o medo entre a população. Sem conseguir controlar o anseio de liberdade da geração de iranianos que cresceu sufocada pelos aiatolás, dois homens foram executados em conexão com as manifestações.
Temor de uma terceira execução
Majidreza Rahnavard, 23 anos, foi enforcado em público em 12 de dezembro, depois de ser condenado por um tribunal em Mashhad (nordeste) por matar dois membros das forças de segurança.
Quatro dias antes, Mohsen Shekari, também de 23 anos, foi executado por ferir um membro das forças de segurança com uma faca.
"Fico particularmente triste que meu afilhado, Mohammad Mahdi Karami, não esteja entre aqueles que foram salvos pela pressão internacional. Isto significa que devemos redobrar nossa energia e determinação em nosso apoio àqueles que exigem liberdade e democracia", disse Clémentine Autain, deputada francesa da coalizão de esquerda Nupes, à RFI.
Karimi, 22 anos, poderia ser o terceiro manifestante a ser executado pelo regime iraniano. O jovem, que também é um campeão de karatê no Irã, faz parte de um grupo de cinco pessoas condenadas à pena capital por um ataque que terminou com a morte de um paramilitar durante uma cerimônia fúnebre de homenagem a um manifestante em Karaj, perto de Teerã. Karimi foi sentenciado após um julgamento que durou menos de uma semana, de acordo com a ONG Anistia Internacional. A entidade de defesa dos direitos humanos denuncia um julgamento que violou os devidos princípios do processo jurídico.
Os pais de Karimi postaram em uma rede social, em 18 de dezembro, um apelo de clemência aos juízes para preservar a vida de seu filho condenado.
"Acredito que esta é uma luta internacional essencial, e noto, embora agora eu veja seus limites mais trágicos, que, apesar de tudo, esta pressão tem um impacto e contribui para apoiar moralmente aqueles no Irã que estão assumindo riscos, riscos para suas vidas em nome de um ideal emancipatório", acrescentou Autain.
Julgamentos sumários
Em um relatório publicado no final de dezembro, a ONG IHR identificou 100 prisioneiros políticos que poderiam ser condenados à morte; 13 deles já receberam a sentença de execução. A organização também advertiu que muitos detidos têm acesso limitado a um advogado.
Em um balanço atualizado nesta terça-feira (3), o IHR aponta que 476 manifestantes morreram em decorrência da repressão desde meados de setembro. Pelo menos 14.000 pessoas foram detidas desde o início dos protestos no Irã, informou a ONU em novembro.
De acordo com o Judiciário iraniano, outras nove pessoas foram condenadas à morte em conexão com as manifestações, e juízes concederam o direito a um novo julgamento em dois processos.