Publicada em 10/01/2023 às 09h01
Dezenas de pessoas se reuniram em frente à Embaixada brasileira em Paris nesta segunda-feira (9) para apoiar a democracia no Brasil e repudiar os atos terroristas cometidos por bolsonaristas em Brasília na véspera. Uma senadora, três deputados e representantes de diversos partidos e organizações da esquerda francesa estavam entre os presentes.
“Estamos aqui reunidos diante da embaixada para mostrar à comunidade internacional que somos contra os ataques e cobramos punição deste grupo antidemocrático”, explica Esdras Ribeiro, coordenador do PT em Paris e organizador do ato desta segunda-feira.
“Nós nos mobilizamos durante a noite de domingo para segunda aqui em Paris para organizar este ato rapidamente. Os partidos e movimentos de esquerda franceses nos apoiaram de imediato e vieram hoje prestar solidariedade diante desta catástrofe que aconteceu em Brasília”, continua, lembrando que os franceses, assim como os brasileiros, estão aterrorizados com os atos vistos na Praça dos Três Poderes.
A senadora Laurence Cohen, do Partido Comunista Francês e presidente do grupo de amizade França-Brasil, foi uma das primeiras autoridades a chegar ao ato no fim de uma tarde chuvosa e fria de inverno em Paris.
“Eu quero denunciar este ato que foi cometido contra as instituições brasileiras e contra o presidente Lula. São atos intoleráveis, que questionam a democracia e o sufrágio universal, que questionam os votos dos brasileiros que elegeram Lula. Foi um ato terrorista que precisa ser punido”, sublinha senadora.
Cohen disse que, no Senado, todos os seus colegas denunciaram os atos terroristas no Brasil. “Eu me alegro que aqui na França tenha havido uma condenação unânime destes atos dos bolsonaristas, que são fascistas. Fico contente com o apoio, esta solidariedade internacional a Lula, às medidas que ele instaura para fortalecer a democracia, a justiça social, a igualdade”, concluiu a senadora, acrescentando que o que aconteceu em Brasília foi “uma tentativa de golpe de Estado”, “um atentado à democracia”.
Crise na Assembleia Nacional
Se no Senado francês a condenação aos atos terroristas foi unânime, o mesmo não aconteceu na Assembleia Nacional, a câmara dos deputados francesa. É o que denuncia o deputado Arnaud Le Gall, do partido da esquerda radical A França Insubmissa.
“Estamos aqui pela honra da Assembleia Nacional, porque o grupo de amizade França-Brasil é dirigido por um deputado da extrema direita (Nicolas Dupont-Aignan) e evidentemente ele não denunciou a tentativa de golpe de Estado bolsonarista. Nós queremos lembrar que a Assembleia Nacional não apoia esta ausência de tomada de posição do presidente deste grupo de amizade”, apontou Le Gall.
Precedente perigoso
Para o deputado, os atos criminosos ocorridos em Brasília são um precedente perigoso para qualquer democracia: “Ao mesmo tempo em que apoiamos os brasileiros, estamos aqui também para alertar o povo francês que, quando a extrema direita chega ao poder, ela tem dificuldade de passá-lo adiante. Eles destituíram Dilma Rousseff num golpe parlamentar, colocaram Lula na prisão com acusações mentirosas e um processo arbitrário, mas eles não conseguiram impedi-lo de voltar ao poder. Então, agora eles querem tomar o poder pela força”.
“São métodos clássicos da extrema direita e precisamos lembrar que eles não são prerrogativa da extrema direita brasileira. É um precedente perigoso para todos os países que tenham ou possam vir a ter em governo de extrema direita. Eu quero alertar os franceses: atenção, quando a extrema direita chega ao poder, ela não quer largá-lo."
"Eu não sei como estará a França no futuro, mas agora eu quero apontar este perigo e repudiar a ausência de reação do presidente do grupo de amizade França-Brasil, que é por si só inquietante”, enfatizou Le Gall, que é também membro da comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional.
Membros de movimentos sociais e coletivos de diversas nacionalidades, principalmente brasileiros e latino-americanos, também estiveram presentes para apoiar o governo Lula.
“Estamos aqui para apoiar Lula e o seu governo democrático, para nos solidarizar e repudiar os atos fascistas dos setores mais conservadores e recalcitrantes do Brasil, que não quiseram aceitar a vontade popular. Estamos presentes para dizer não ao fascismo, sim à democracia e repudiar estas ações violentas”, disse a venezuelana Maiagualida Rivas, do coletivo latino-americano Alba France.
Para Florence Poznanski, do Partido de Esquerda, "essa invasão terrorista e principalmente fascista de centenas de bolsonaristas é uma afronta à democracia que o governo brasileiro, a opinião pública e a mobilização internacional não podem deixar passar".
"É importantíssimo não só condenar com a máxima força os autores e todos os que foram coniventes como cortar isso pela raiz. Principalmente o ex-presidente Bolsonaro, que ainda não atualizou a sua descrição no Twitter e está lá nos Estados Unidos", continua.
"Estamos num contexto em que a lei e a legalidade do voto estão sendo contestadas e isso não pode durar nem mais um segundo. Da França, enquanto representante de um partido francês, apelo para que o governo francês dê todo o seu apoio para quebrar esta espiral de violência e de intimidação política, porque vemos que o fascismo atua desta mesma forma em todos os países", conclui Poznanski.